O responsável pelo vazamento dos vídeos que denunciam abusos contra presos cometidos em prisões russas fugiu da Rússia. Ele desembarcou no sábado (16) em Paris, na França, onde pretende pedir asilo político, com medo da perseguição que pode sofrer por parte do Kremlin. As informações são da Radio Free Europe.
A fuga foi confirmada pelo ativista de direitos humanos Vladimir Osechkin, fundador da ONG Gulagu.net, que monitora abusos no sistema prisional e que divulgou a maioria dos vídeos. Ele se refere ao autor da denúncia apenas como Syarhey, um profissional de TI (tecnologia da informação) de Belarus.
A informação é de que Syarhey chegou ao aeroporto Charles De Gaulle em um voo proveniente de um país não informado no norte da África e imediatamente recorreu à polícia para obter ajuda em busca de asilo. A ONG exibiu uma foto que seria do delator já em solo francês, ainda no aeroporto.
Tortura e estupro
Osechkin afirma que, entre 2018 e 2020, pelo menos 200 presidiários teriam sido vítimas de tortura e estupro por agentes estatais da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês) e do FSIN (Serviço Prisional Federal, da sigla em russo). As imagens dos vídeos fornecidos por Syarhey, que já passou pelo sistema carcerário russo, onde diz ter sido torturado, mostram maus tratos praticados contra 40 presos.
Os vídeos, divulgados em sua maioria pelo Gulagu.net, mostram detentos sendo espancados e estuprados, uma denúncia que inicialmente levou a cinco demissões, de acordo o governo russo. Os demitidos seriam o diretor de uma prisão onde foram relatados abusos, o chefe do serviço penitenciário regional e mais três funcionários do FSIN.
Um dos principais centros de tortura apontado pela Gulagu.net é a Colônia Penal 15, em Angarsk, perto da Mongólia. Lá, os agentes carcerários empreenderam uma campanha de violência desde uma rebelião que ocorreu em abril de 2020, organizada pelos presos justamente em virtude de uma agressão contra um detento.
Um ex-presidiário relatou a violência no episódio do motim. “Confessei que quebrei duas câmeras durante a rebelião na prisão de Angarsk. Eu disse imediatamente ao pessoal. Eles viram tudo, eu nunca tentei esconder. Mas, por causa dessas duas câmeras, eles me estupraram e me espancaram”, disse. “Minha saúde foi gravemente prejudicada, ainda estou me recuperando”.
De acordo com Osechkin, o problema não é centralizado e ocorre em todo o país. “Um sistema de tortura foi e ainda está operacional”, disse ele. “Eles (as autoridades) têm medo de admitir a verdade em público, e a verdade é terrível, porque a verdade é que seus serviços especiais têm torturado pessoas em massa”.
Por que isso importa?
O sistema carcerário russo ganhou atenção global devido a denúncias de Alexei Navalny, o principal opositor do presidente Vladimir Putin. O oposicionista está preso desde fevereiro deste ano em uma colônia penal de alta segurança, a IK-2, 100 quilômetros a leste de Moscou.
Navalny, detido por ter liderado manifestações não autorizadas contra o Kremlin, chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril. Na ocasião, ele protestava contra a falta de atendimento médico e contra o que classificou como “tortura” por privação de sono, alegando que um guarda o acordava de hora em hora durante a noite.
Em agosto, a Justiça russa abriu uma segunda acusação criminal contra Navalny, o que pode ampliar a sentença de prisão em três anos. A acusação: “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da Fundação Anticorrupção (FBK) que ele criou. Mais recentemente, uma terceira acusação, de “extremismo”, pode estender o encarceramento por até uma década.
Caso seja condenado em alguma das novas acusações, Navalny será mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Putin no Kremlin.
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