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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Justiça de Berlim condena alemão acusado de repassar segredos à inteligência russa

O Primeiro Senado Criminal da Corte de Apelações de Berlim, responsável por julgar casos de segurança nacional, condenou um cidadão alemão a dois anos de prisão, com a pena suspensa, por ter repassado informações sigilosas à inteligência russa. As informações são da rede Deutsche Welle.

Jens F., cujo nome completo é mantido em segredo, foi sentenciado na quinta-feira (28) por ter entregado a uma pessoa da embaixada russa um CD-Rom contendo 385 arquivos de plantas de edifícios federais utilizados pelo Bundestag, o parlamento da Alemanha. Embora os arquivos não fossem confidencias, eles eram de acesso restrito e não poderiam ser repassados ao público nem a nações estrangeiras.

Prédio do Bundestag, parlamento da República Federal da Alemanha (Foto: Jorge Royan/Wikimedia Commons)

À época do incidente, Jens F. era funcionário de uma empresa de segurança encarregada de controlar o acesso de aparelhos eletrônicos ao Bundestag. O CD-Rom foi entregue a um funcionário da embaixada russa mais tarde identificado como sendo agente do GRU (Serviço de Inteligência Militar da Rússia).

O advogado de defesa do réu alegou que o caso configura perseguição governamental, e que as acusações escoram-se exclusivamente no fato de ele ter trabalhado para o governo da antiga Alemanha Oriental. Jens F. também foi condenado a pagar 15 mil euros ao tesouro estadual. A promotoria pedia uma pena de dois a nove anos de prisão.

Por que isso importa?

As atividades de espionagem russas na Alemanha aumentaram muito nos últimos anos, atingindo níveis que remetem aos tempos de Guerra Fria. Em junho, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco, inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang diz que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, diz ele.

Alguns casos ligados à espionagem russa na Alemanha vieram a público nos últimos meses, como um ciberataque contra 38 parlamentares alemães em março. A invasão faria parte da campanha “Ghostwriter”, atribuída a hackers ligados ao GRU. O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta segunda a sigla da chanceler Angela Merkel.

A relação diplomática entre os dois países é ruim em 2014, quando da anexação da região da Crimeia, na Ucrânia, pela Rússia. Desde então, a UE proibiu a venda para empresas russas de bens de dupla utilização, aqueles que poderiam também ter uso militar.

Em 2020, Berlim se envolveu em mais uma crise diplomática com Moscou após o o envenenamento do opositor ao Kremlin Alexei Navalny, em agosto, que que aliados da vítima atribuem a Vladimir Putin. Ele se recuperou em Berlim antes de retornar à Rússia, onde está preso desde fevereiro de 2021.

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