A mudança climática contribuiu para o aumento da insegurança alimentar, da pobreza e do deslocamento de pessoas na África no ano passado. A afirmação consta de um relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial) publicado nesta terça-feira (19) e intitulado “Estado do Clima na África 2020”.
O documento destaca a vulnerabilidade desproporcional do continente em relação ao resto do mundo, além de reforçar que o investimento em adaptação climática, sistemas de alerta precoce e serviços meteorológicos e climáticos pode ser um diferencial no combate às mudanças climáticas.
Petteri Taalas, o Secretário-Geral da OMM, disse que os indicadores climáticos na África durante o ano passado foram caracterizados pelo aquecimento contínuo das temperaturas, o aumento acelerado do nível do mar, as condições meteorológicas extremas e eventos climáticos como inundações, deslizamentos de terra e secas.
Degelo das montanhas
Apenas três montanhas na África são cobertas por geleiras: o maciço do Monte Quênia, as Montanhas Rwenzori em Uganda e o Monte Kilimanjaro, na Tanzânia. Mesmo que as geleiras sejam muito pequenas para atuar como reservatórios de água significativos, a OMM destacou sua importância turística e científica.
Atualmente, as taxas de retirada de gelo nos picos africanos são mais altas do que a média global, e o “degelo total” poderia ser possível por volta de 2040. O Monte Quênia deverá ser degelado uma década antes, segundo a OMM, o que o tornará uma das primeiras cadeias de montanhas inteiras a perder a cobertura glaciar devido à mudança climática induzida pelo homem.
“O rápido encolhimento das últimas geleiras remanescentes no leste da África, que se espera derreter totalmente em um futuro próximo, sinaliza a ameaça de uma mudança iminente e irreversível para o sistema terrestre”, alertou Taalas.
Progresso interrompido
Segundo Josefa Leonel Correia Sacko, comissária para a Economia Rural e Agricultura da União Africana, o aumento da variabilidade do tempo e do clima compromete vidas e economias.
“Na África Subsaariana, a mudança climática pode reduzir ainda mais o produto interno bruto (PIB) em até 3%, até 2050”, disse Sacko. “Isso representa um sério desafio para a adaptação ao clima e ações de resiliência, porque não só as condições físicas estão piorando, mas também o número de pessoas sendo afetadas está aumentando”.
As estimativas revelam que, até 2030, até 118 milhões de pessoas extremamente pobres no continente estarão expostas a seca, inundações e calor extremo, o que impedirá o progresso em direção ao alívio da pobreza e ao crescimento.
O relatório aponta, ainda, que o investimento em adaptação climática para a África Subsaariana custaria entre US$ 30 e US$ 50 bilhões por ano durante a próxima década, ou cerca de dois a três por cento do PIB.
Os autores do relatório afirmam que a rápida implementação de estratégias de adaptação estimularia o desenvolvimento econômico, bem como geraria mais empregos na recuperação pós-pandemia. Prosseguir com as prioridades de um plano de recuperação verde da União Africana também permitiria uma recuperação sustentável, bem como uma ação climática eficaz.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News
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