Seis meses após a invasão à Ucrânia, ocorrida em 24 de fevereiro, a Rússia já embolsou 158 bilhões de euros com a exportação de energia. É o que aponta relatório divulgado pelo Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (CREA, na sigla em inglês) e reproduzido pelo jornal independente The Moscow Times.
“O aumento dos preços dos combustíveis fósseis significa que a receita atual da Rússia está muito acima do nível dos anos anteriores, apesar das reduções nos volumes de exportação deste ano”, diz o documento, ressaltando que os valores acumulados nesse período ajudam a driblar as sanções ocidentais e assim financiar a máquina de guerra do presidente Vladimir Putin.
A União Europeia (UE) continua sendo o principal destinatário das fontes de energia russas, sendo o maior importador de combustíveis fósseis russos, com 85,1 bilhões de euros. A China vem a seguir, com 34,9 bilhões de euros, e a Turquia surge em terceiro, com 10,7 bilhões de euros.
Nesse cenário, pesa a favor de Moscou a alta global dos preços dos combustíveis, que compensa eventuais reduções no volume das exportações.
A fim de combater essa situação, na última sexta-feira (2), os países do G7 prometeram impor um teto de preço ao petróleo russo, uma medida que privaria a Rússia de grande parte da receita que agora obtém com suas exportações de petróleo.
Embargo é a solução
Em artigo publicado pelo think tank Atlantic Council no início de abril, Basil Kalymon, professor emérito da Ivey Business School, no Canadá, alertou para a importância que o dinheiro europeu tem para a Rússia. “Sem esse financiamento, a economia russa entraria em colapso, e a capacidade de Putin de continuar a invasão da Ucrânia seria drasticamente reduzida”, disse.
Segundo Kalymon, a solução traria prejuízos, mas a matemática compensaria. “Um embargo ao petróleo e gás russos resultaria em custos significativos que seriam sentidos em toda a Europa. No entanto, os danos infligidos à economia russa seriam muito maiores e poderiam conseguir deter o maior conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial”.
O CREA afirmou, em relatório divulgado anteriormente, que um embargo parcial imposto pela UE custaria aos cofres russos US$ 36 bilhões por ano. Da forma como o problema é tratado atualmente, a redução da quantia de gás e petróleo enviada ao bloco não chega a machucar a Rússia, que compensa a queda na quantidade exportada com o aumento do preço. Ou seja, exporta menos sem reduzir o faturamento.
“A redução da demanda e o desconto no preço do petróleo russo custaram ao país aproximadamente 200 milhões de euros por dia em maio”, diz o relatório anterior, que aponta o outro lado da questão. “O aumento da demanda por fósseis gerou um ganho inesperado: os preços médios de exportação da Rússia foram, em média, 60% mais altos do que no ano passado, mesmo descontados dos preços internacionais”.
Por ora, o bloco europeu adota medidas mais suaves que as de seus aliados. “Os EUA e o Canadá impuseram proibições de importação de combustíveis fósseis que já estão em vigor. O Reino Unido eliminará gradualmente as importações de petróleo bruto e derivados até o final de 2022″, afirma o CREA.
Segundo o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que falou ao jornal The Washington Post, o acordo para encerrar as entregas marítimas, previsto para ser concluído até o final do ano, cobriria mais de dois terços das importações de petróleo da Rússia, cortando “uma enorme fonte de financiamento” para a “máquina de guerra” russa.
Porém, o relatório mostra que mesmo essa abordagem ignora uma armadilha. Isso porque a Rússia tem buscado novos compradores. Um deles é a Índia, que antes da guerra era o destino de cerca de 1% do petróleo cru exportado pela Rússia. Em maio, respondia por 18%.
Ocorre que parte do petróleo cru exportado para os indianos acaba refinado no país asiático e depois revendido justamente para consumidores nos EUA e na Europa. Para tapar esse buraco seria necessário impor sanções ainda mais duras às fontes de energia russas.
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