O governo da Somália informou nesta segunda-feira (12) que uma grande operação de contraterrorismo realizada pelo exército nacional matou mais de cem combatentes do Al-Shabaab nas últimas semanas. As informações são do site local Garowe.
A operação teria contado com a colaboração de milícias armadas regionais que habitualmente se unem às forças armadas no combate aos extremistas. Cidades estratégicas que estavam sob o controle do Al-Shabaab foram retomadas pelos militares, segundo comunicado divulgado pelo governo.
“O Exército Nacional Somali, com a ajuda da milícia local, libertou várias aldeias em HirShabelle, Galmadug e Southwest, matando mais de cem militantes do Al-Shabaab no processo”, diz o texto. “As operações para eliminar o terrorismo mostram o compromisso do governo em libertar o país de terroristas e grupos como o Al-Shabaab e vem acontecendo nos últimos dois meses”.
Além de destacarem o sucesso da missão, as forças armadas afirmaram que ações do gênero continuarão nos próximos meses, de forma a libertar outros redutos controlados pela facção. “O grupo terrorista tem usado essas cidades como fortalezas para organizar ataques com explosivos e homens-bomba em diferentes partes do país”, disseram os militares.
Na sexta-feira (9), o exército havia anunciado a morte de um líder sênior do Al-Shabaab, acusado de atuar como coordenador dos insurgentes em Mubarak, no Estado de Lower Shabelle. Identificado apenas como Carab, ele teria sido localizado em um centro de extorsão mantido pelo grupo, responsável por coletar dinheiro para a compra de armamento.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda, chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação
“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.
O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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