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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Duas novas mortes sugerem que o Taleban do Paquistão está voltando à ativa

O Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, dá indícios de estar retomando o controle de distritos tribais paquistanesas, sobretudo nas proximidades com o Afeganistão. Mais um sinal surgiu nesta semana, quando duas pessoas foram mortas por homens armados não identificados em ataques direcionados. As informações são da rede Gandhara.

As ações sugerem que o grupo desistiu do cessar-fogo que vinha sendo negociado com Islamabad e tem retornado gradualmente a atuar em áreas onde sempre marcou forte presença. Agentes das forças de segurança do governo e civis voltaram a ser alvo de ataques do TTP nas últimas semanas.

Os mais recentes teriam ocorrido na noite de terça-feira (20), pelo horário local. Uma das vítimas foi um ancião tribal identificado pela polícia como Munsif Ali Afridi. Ele foi morto a tiros no distrito de Khyver, e os assassinos não foram identificados, apesar de as autoridades terem realizado uma operação para capturá-los.

Outro episódio de violência possivelmente atrelado ao TTP ocorreu na cidade de Mir Ali, no distrito tribal do Waziristão do Norte. Um jovem foi morto da mesma maneira, por tiros disparados por homens não identificados na frente da casa dele.

Somente no Waziristão do Norte, mais de 50 pessoas, entre líderes locais, filantropos, políticos, jovens, estudiosos religiosos e agentes de segurança, foram mortas em ataques direcionados que levam as características do Taleban do Paquistão.

De acordo com Muhammad Ali Saif, conselheiro do ministro-chefe da província de Khyber Pakhtunkhwa, na qual estão inseridas as áreas tribais, as negociações de paz entre o governo e os extremistas estão paralisadas, mas não encerradas.

Combatentes do Tehreek-e-Taliban em vídeo de abril de 2021, Paquistão (Foto: Twitter/PatilSushmit)
Ataque anterior

Na semana passada, o grupo radical reivindicou a autoria de um ataque a bomba que matou oito pessoas no noroeste paquistanês. Um explosivo posicionado em uma rodovia causou as mortes.

Uma das vítimas era ex-comandante de uma antiga milícia aliada ao governo central. Durante anos, Islamabad incentivou civis a formarem grupos armados para atuar em defesa de suas vilas. Com o passar do tempo, porém, a segurança no país melhorou, e essas milícias foram desfeitas.

Zahid Nawaz Marwat, chefe de polícia da região onde ocorreram as mortes, identificou o ex-comandante como Idrees Khan. O TTP confirmou que ele era o alvo, pois teria matado membros da facção extremista no passado.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, mas confrontos esporádicos continuam a ocorrer.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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