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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Xi, da China, e Putin, da Rússia: homens perigosos se encontram na Ásia Central

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site da revista Newsweek

Por Gordon G. Chang

Pode vir algum bem disso?

Os dois atores mais perigosos do mundo, Xi Jinping e Vladimir Putin, se reunirão em breve. O encontro presencial, o 39º desde que Xi se tornou presidente chinês em 2013, acontecerá na cidade de Samarcanda, inserida na Nova Rota da Seda, no Uzbequistão.

A China não confirmou o encontro com Putin, mas certamente acontecerá na cúpula da OCS patrocinada pela China, a Organização de Cooperação de Xangai, nos dias 15 e 16. A viagem de Xi ao Cazaquistão, nesta quarta-feira (14), e ao vizinho Uzbequistão será a primeira vez que ele deixará o solo chinês desde janeiro de 2020.

Muitos analistas argumentam que Washington deveria tentar afastar a Rússia e a China, separando uma da outra, como Nixon fez durante a Guerra Fria. No momento, esse objetivo é inatingível. Mas a reunião da SCO oferece a Washington uma abertura para lidar com esses dois grandes Estados.

Há muita coisa acontecendo no Uzbequistão nesta semana. “A cúpula pode ser a reunião mais importante da SCO nos 21 anos da organização”, disse Gregory Copley, presidente da Associação Internacional de Estudos Estratégicos, à Newsweek.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, em 2019 (Foto: www.kremlin.ru)

Beijing e Moscou veem a cúpula como uma oportunidade para reafirmar o domínio na região após a retirada calamitosa dos Estados Unidos do Afeganistão no ano passado. O desastre em grande parte acabou com a influência americana na região.

Cinco dos sete “Istãos” da Ásia Central, como são chamados, têm uma agenda à parte da China e da Rússia. Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão, Turcomenistão e Tadjiquistão sabem que devem manter relações cordiais com Beijing e Moscou. Mas, como diz Copley, também editor-chefe de Política Estratégica de Defesa e Relações Exteriores, eles estão tentando “moldar suas políticas estratégicas para que possam garantir a máxima liberdade dos dois poderes.”

Seu sucesso em atingir esse objetivo dependerá, em parte, de eles conseguirem fortalecer as relações com o Ocidente. Mesmo depois do Afeganistão, os Estados da Ásia Central acreditam que ainda podem trabalhar com os Estados Unidos.

Washington, que não é membro da SCO, tem muito em jogo lá. Como observa Copley, “os Estados da Ásia Central representam a melhor esperança do Ocidente de impedir que Moscou e Beijing consolidem o poder sobre todo o mapa da Eurásia”.

A China e a Rússia estão agora mais próximas do que estiveram em décadas. Por exemplo, eles anunciaram sua parceria “sem limites” em uma declaração conjunta de 5,3 mil palavras após a última reunião Xi-Putin, que ocorreu em Beijing em 4 de fevereiro.

A China apoiou Putin na Ucrânia desde então. Beijing, muitos acreditam, até deu sinal verde para a invasão na cúpula de fevereiro. No entanto, quer Xi tenha feito isso ou não, ele apoiou a Rússia.

A China, com compras elevadas de commodities, efetivamente financia a guerra da Rússia. Além disso, Beijing tem fornecido ajuda bancária, diplomática, de propaganda e militar a Putin.

Li Zhanshu, o terceiro líder da China, acaba de expressar o total apoio de Beijing ao Kremlin, mesmo quando as forças russas sofriam baixas humilhantes no leste da Ucrânia. Na sexta-feira (9) passada, de acordo com fontes oficiais russas, Li disse aos membros da Duma estatal que “a China entende e apoia a Rússia em questões que representam seus interesses vitais, em particular na situação na Ucrânia”.

Os comentários de Li, conforme relatado por Moscou, vão além das afirmações oficiais chinesas anteriores de apoio ao esforço de guerra russo, mas até agora não houve retratações de Beijing.

A primeira vez que o mundo saberá se Beijing endossa os comentários de Li e continua apoiando os russos será nesta semana no Uzbequistão, quando Xi Jinping se encontrar com Vladimir Putin.

Então, como os Estados Unidos lidam com a China e a Rússia? Para começar, ambos têm economias fracas. A da Rússia foi abalada pelas sanções impostas após a invasão da Ucrânia, e a da China está exausta e frágil, especialmente porque os programas maciços de estímulo de Beijing, que geraram crescimento de forma confiável por décadas, não estão funcionando bem agora.

A guerra bárbara da Rússia e a assistência da China oferecem oportunidades para minar ambos. Os americanos devem se lembrar de que o direcionamento do presidente Ronald Reagan à economia soviética, por meio da redução dos preços das commodities, entre outras coisas, foi o principal responsável pelo colapso final do Estado soviético.

Estamos vendo ecos dessa abordagem agora. O Departamento do Tesouro de Biden alertou na sexta-feira (9) que, em relação ao petróleo russo, imporá sanções aos compradores que fizerem “compras significativas de petróleo acima do preço máximo” proposto pelo G7, a União Europeia (UE) e os EUA. Esse é um passo na direção certa, embora longe do que é necessário.

A derrubada das economias russa e chinesa, mesmo em suas condições enfraquecidas, é, obviamente, um esforço de longo prazo. O primeiro elemento do plano poderia ser garantir que nem Beijing nem Moscou controlem os cinco estados da Ásia Central.

Como destaca Copley, esses países, nenhum dos quais com acesso ao oceano, têm uma nova rota para os mercados globais. “Eles agora podem negociar no Mar Cáspio através do Azerbaijão, que desde novembro de 2020 tem uma fronteira terrestre com a Turquia e depois com o mundo exterior”.

Os confrontos de segunda-feira (12) entre o Azerbaijão e a Armênia ameaçam esse comércio, mas enquanto isso Washington pode, entre outras coisas, abrir ainda mais seu mercado para os cinco Estados, dando-lhes mais um caminho para um futuro sem Beijing ou Moscou. Em uma longa campanha de desgaste econômico com esses dois regimes malignos, esse não é um lugar ruim para a América começar.

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