Encontrar novos soldados dispostos a lutar na Ucrânia tem sido um dos maiores desafios das forças armadas da Rússia na guerra. Mercenários do Wagner Group, cidadãos despreparados, criminosos e até conscritos, jovens recrutados contra a própria vontade, já surgiram como opção. Uma nova alternativa são os combatentes estrangeiros, segundo informações do jornal independente The Moscow Times.
Na terça-feira (20), mesmo dia em que o presidente Vladimir Putin anunciou uma mobilização nacional parcial que adicionará 300 mil reservistas às forças russas, o prefeito de Moscou confirmou a criação na cidade de um centro de recrutamento para cidadãos estrangeiros dispostos a combater. Ele serão naturalizados e assinarão contrato profissional com as forças armadas.
O recrutamentos será feito em um centro de migração na periferia da cidade, onde atualmente são oferecidos serviços e documentos a estrangeiros, de acordo com o prefeito.
“O governo de Moscou implantará uma infraestrutura completa em Sakharovo para ajudar o Ministério da Defesa da Rússia no recrutamento de cidadãos estrangeiros para o serviço militar”, disse Sergei Sobyanin através do aplicativo de mensagens Telegram.
Para tanto, foi aprovada uma lei na terça que simplifica o processo de obtenção de cidadania àqueles que assinem contrato com o exército. O próximo passo é aprovar a nova legislação na câmara alta do parlamento russo e, depois, enviá-la para a assinatura do presidente Vladimir Putin.
Mobilização parcial
Outra lei aprovada por parlamentares russos na terça, igualmente para contornar os problemas com o contingente reduzido, prevê duras punições a desertores ou soldados que venham a se render. A pena pode chegar a 15 anos de prisão.
A normativa legal prevê dez anos de prisão para os militares que se entregarem voluntariamente às forças inimigas durante a batalha, sendo a mesma pena imposta aos desertores. Já os soldados que eventualmente saquearem cidades ucranianas podem pegar até 15 anos de prisão.
A lei usa termos inéditos na Constituição russa, como “mobilização”, “lei marcial” e “tempo de guerra”, e abriu caminho para o recrutamento de 300 mil reservistas anunciado por Putin nesta quarta (21). Trata-se da maior convocação desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com a agência Reuters.
Por que isso importa?
Oficialmente, o ministro da Defesa Sergei Shoigu disse em setembro que as forças armadas russas perderam 5.397 combatentes na guerra. Os números, porém, são bastante diferentes dos divulgados por agências de inteligência ocidentais.
No dia 8 de agosto, Washington apresentou uma estimativa de que entre 70 mil e 80 mil soldados russos foram mortos ou feridos. Alguns dias antes, em 20 de julho, William Burns, diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), afirmou que 15 mil soldados russos haviam morrido na guerra até então.
A fim de contornar o problema, Putin já havia determinado em agosto o aumento legal do efetivo de suas forças armadas. Um decreto criou 137 mil novos postos militares profissionais, aumentando em 10% o número de combatentes ativos e atingindo assim um efetivo de 1,15 milhão. Atualmente, há 1,9 milhão de postos, entre civis e militares. Com o novo recrutamento, que entra em vigor no dia 1º de janeiro de 2023, serão cerca de 2,05 milhões de russos com contrato assinado com as forças armadas.
Enquanto o decreto não entra em vigor, a Rússia tem recorrido a alternativas emergenciais para ampliar seu efetivo na Ucrânia. Uma delas é enviar ao campo de batalha soldados com pouco treinamento militar, uma prática que coloca a vida deles em risco e compromete o rendimento geral das tropas, segundo especialistas.
Soldados que participaram do conflito confirmaram ter passado por um treinamento curto, com duração entre cinco e dez dias. Uma prática que contraria o Ministério da Defesa da Rússia, segundo o qual uma preparação de quatro semanas é necessária para considerar o soldado apto.
A situação é ainda mais delicada no caso dos conscritos, cujo envio à guerra só é permitido pela legislação russa após quatro meses de serviço militar.
Desde o início do conflito, Moscou afirma que apenas soldados profissionais fazem parte do que o governo classifica como “operação militar especial“. Em março, porém, o Ministério da Defesa admitiu que alguns conscritos foram enviados por engano, mas já teriam sido levados de volta à Rússia. Inclusive, houve a promessa de punições aos oficiais que os enviaram à guerra.
Até presidiários tornaram-se uma opção para as forças armadas. A ONG de direitos humanos Gulagu.net, que monitora o sistema carcerário do país, diz que detentos têm sido convocados para a guerra pela FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) e pelo Wagner Group, uma organização paramilitar que serve aos interesses do Kremlin e esta ativa na Ucrânia. Os centros de recrutamento seriam colônias penais das regiões de São Petesburgo, Tver, Ryazan, Smolensk, Rostov, Voronezh e Lipetsk.
O post Rússia mobiliza 300 mil reservistas e cria centro para recrutar estrangeiros apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos