A Meta, empresa que controla Facebook e Instagram, anunciou na terça-feira (27) que derrubou uma grande rede de desinformação originária da Rússia e direcionada a países da Europa, cujo objetivo era difundir propaganda pró-Kremlin em meio à guerra na Ucrânia. As informações são da agência Associated Press (AP).
Moscou fez uso de centenas de perfis em redes sociais e mais de 60 sites falsos que se assemelham a grande veículos de imprensa ocidentais, como o jornal britânico Guardian e o alemão Der Spiegel. Então, notícias falsas com posicionamento favorável à Rússia eram criadas nesses canais, idênticos aos originais, e espalhadas através de cerca de 1,6 mil contas do Facebook. A partir de lá, atingiam usuários também do Instagram, do Twitter e do Telegram.
De acordo com a companhia norte-americana, este foi provavelmente o maior esforço de propaganda russa identificado desde o início do conflito, em 24 de fevereiro. Ainda assim, a operação foi desfeita antes de atingir um grande público, sendo os países-alvo Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Ucrânia.
Diplomatas a serviço da desinformação
“Em algumas ocasiões, o conteúdo da operação foi ampliado pelas páginas oficiais no Facebook das embaixadas russas na Europa e na Ásia”, disse David Agranovich, diretor de interrupção de ameaças da Meta. “Acho que esta é provavelmente a maior e mais complexa operação de origem russa que interrompemos desde o início da guerra na Ucrânia no início deste ano”.
Em abril, as redes sociais já haviam alertado que centenas de perfis de consulados e embaixadas da Rússia vinham desempenhando um importante papel para desacreditar as acusações de crimes de guerra cometidos por tropas do país.
A diplomacia assumiu a dianteira na campanha de desinformação e propaganda após a mídia estatal russa entrar na mira das nações ocidentais, inclusive com a suspensão de transmissões de emissoras russas online por países ocidentais, como Alemanha e EUA. Com a mídia estatal bloqueada, restou ao corpo diplomático fazer o serviço de difusão da propaganda no Ocidente.
Kremlin sob suspeita
Apesar de associar a diplomacia russa ao processo de difusão das notícias falsas, a Meta disse que a investigação não foi capaz de atrelar a mais recente campanha de propaganda ao Kremlin. Ainda assim, a suspeita existe, vez que o sistema era bastante sofisticado, com conteúdo produzido em diversos idiomas e sites falsos criados detalhadamente para se parecer com os autênticos.
O objetivo, que atende aos interesse do governo Putin, também serve para aumentar a suspeita de envolvimento do Kremlin. As campanhas de desinformação confundem a opinião pública, difundindo uma versão dos eventos distorcida e favorável à Rússia. Por vezes, também buscam desestabilizar regimes ocidentais semeando a discórdia. Há casos, inclusive, de figuras relevantes, como e influenciadores digitais e políticos, patrocinados pelos russos.
“Vídeos e outros conteúdos postados nas mídias sociais são parte da doutrina de guerra de informação da Rússia”, disse em março Rebekah Koffler, ex-funcionária da inteligência militar norte-americana e autora do livro Putin’s Playbook: Russia’s Secret Plan to Defeat America (A Cartilha de Putin: o Plano Secreto da Rússia para Derrotar a América, em tradução livre e sem versão em português).
Koffler reforça que o objetivo de Moscou é “predispor favoravelmente a população russa às ações do governo. Neste caso, a incursão militar na Ucrânia. E convencer os estrangeiros simpatizantes da Rússia a ver o lado russo da história”.
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