Uma investigação independente, realizada conjuntamente por uma equipe de pesquisa multidisciplinar londrina e um grupo de direitos humanos, aponta que o assassinato da jornalista Shireen Abu Akleh, ocorrido na Cisjordânia, em 11 de maio, foi cometido pelas forças de Israel de maneira “deliberada”. As informações são da agência catari Al Jazeera, para a qual a profissional trabalhava.
A profissional palestina, que tinha também a nacionalidade norte-americana, foi morta com um tiro na cabeça quando reportava uma operação de prisão pelas forças de segurança israelenses em meio a uma série de confrontos no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada.
Os investigadores analisaram o ângulo de tiro e concluíram que o atirador era capaz de notar claramente que havia jornalistas na área. Como em outras investigações anteriores, foi descartada a hipótese de que confrontos entre forças israelenses e palestinos estivessem ocorrendo no momento do ataque.
No início do mês, Israel já havia admitido uma “grande possibilidade” de suas forças armadas terem sido responsáveis pela morte da jornalista, “acidentalmente atingida” por um disparo de um de seus agentes israelense.
Autoridades israelenses chegaram a admitir, em conversa com jornalistas, que o soldado responsável pelo disparo foi identificado. E que, “se ele fez isso, ele fez por engano”. Mas descartaram a abertura de uma investigação formal.
Agora, a apuração mais recente aponta que o atirador era mesmo um israelense que inicialmente disparou 13 balas, sendo que uma delas atingiu Abu Akleh abaixo do capacete. Na sequência, ele deu ao menos mais três tiros em direção às pessoas que tentavam resgatá-la.
No mesmo dia em que o relatório conjunto foi divulgado, a família da jornalista apresentou uma queixa oficial ao Tribunal Penal Internacional (TPI). A denúncia é apoiada pelo Sindicato da Imprensa Palestina e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).
Teoria desmentida
Outras investigações em torno da morte da jornalista apontam igualmente para um soldado israelense como responsável pelo disparo fatal. Entre elas, uma do Escritório de Direitos Humanos da ONU (ACNUDH), cujo resultado foi divulgado em junho e que prontamente afastou a possibilidade de o disparo ter partido de um palestino.
A porta-voz do ACNUDH Ravina Shamdasani disse não haver evidência de atividades de palestinos armados nas proximidades de onde a jornalista foi morta. Segundo ela, Akleh e os colegas “procederam lentamente para tornar sua presença visível para as forças israelenses posicionadas na rua. Nossas descobertas indicam que nenhum aviso foi emitido e nenhum tiroteio estava ocorrendo naquele momento e naquele local”.
Shamdasani reforçou que foram analisados fotos, vídeos e áudios, além de terem sido feitas visitas à cena do crime, consultas a especialistas e a análise de comunicações oficiais. “Com base nesse monitoramento muito vigoroso, descobrimos que os tiros que mataram Abu Akleh vieram das forças de segurança de Israel e não de disparos indiscriminados por palestinos armados”, disse ela.
Depois que a jornalista foi baleada, “várias outras balas individuais foram disparadas quando um homem desarmado tentou se aproximar de seu corpo e de outro jornalista ileso abrigado atrás de uma árvore”, continuou a funcionária do ACNUDH. “Os tiros continuaram a ser disparados quando esse indivíduo finalmente conseguiu levar o corpo de Abu Akleh”. Ali al-Samoudi, jornalista que trabalhava com ela, também foi baleado e conseguiu se recuperar do ferimento.
O post Investigação indica que morte jornalista na Cisjordânia foi ‘deliberada’ apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos