O Partido Comunista Chinês (PCC) “expandiu sua presença na mídia global” e tem usado “táticas mais sofisticadas e coercitivas para moldar as narrativas da mídia e suprimir reportagens críticas” em diversos países do mundo. É o que afirma um estudo feito pela ONG Freedom House, sediada em Washington e parcialmente financiada pelo governo dos EUA. O Brasil está entre os 30 países abordados no relatório.
A Freedom House classifica como “notáveis” os esforços de influência de mídia de Beijing no Brasil, com 35 pontos de 85 possíveis. Já a resiliência e a resposta brasileiras a essa influência são positivamente classificadas como “altas”, com 45 pontos de 85 possíveis.
“A influência da mídia de Beijing no Brasil é significativa e crescente”, diz o documento. “Durante o período de cobertura, de 2019 a 2021, a mídia estatal chinesa e os atores diplomáticos se envolveram ativamente na diplomacia pública e expandiram sua presença nas mídias sociais. Os meios de comunicação estatais chineses também assinaram ou renovaram acordos de cooperação com a mídia privada e pública brasileira”.
Alguns tópicos foram especialmente abordados pela China em sua campanha para tentar influenciar a opinião pública por aqui. Entre eles destaca-se um tema sensível para Beijing, que é a independência de Taiwan, além do debate em torno da eficácia das vacinas chinesas contra a Covid-19.
Na tentativa de construir uma imagem mais favorável entre os brasileiros, o país asiático também investiu pesado em “mensagens positivas sobre a relação econômica” entre as duas nações, destacando-se a importância das empresas chinesas para a rede 5G brasileira.
Embora a presença da mídia da China seja relevante por aqui, o relatório afirma que “não houve evidência de campanhas de desinformação originadas na China que usaram comportamento coordenado ou inautêntico para atingir especificamente consumidores de notícias no Brasil”.
Outro ponto favorável é a resposta brasileira à ação chinesa. “O Brasil tem fortes limites à propriedade estrangeira nos setores de mídia e telecomunicações”, diz o documento. “O país também tem uma tradição de jornalismo investigativo, um ecossistema de mídia diversificado e um setor ativo da sociedade civil, que servem como base para a resiliência diante da influência da mídia estrangeira”, diz a Freedom House.
Propaganda estatal
O documento classifica a influência chinesa como “alta” ou “muito alta” em 16 dos 30 países analisados. A campanha chinesa consiste e distribuir conteúdo em massa, bem como assediar e intimidar “veículos que publicam notícias ou opiniões desfavoráveis ao governo chinês”. O objetivo, essencialmente, é difundir uma imagem positiva da China em todo o mundo.
“Embora alguns aspectos desse esforço usem as ferramentas da diplomacia pública tradicional, muitos outros são encobertos, coercitivos e potencialmente corruptos”, diz o relatório. São citados, inclusive, casos de funcionários de governos estrangeiros e proprietários de mídia cooptados a ajudar na “divulgação de narrativas de propaganda ou suprimir a cobertura crítica”.
No entanto, a resposta a essa campanha tem sido cada vez mais firme das nações atingidas. “Um número crescente de países demonstrou resistência considerável nos últimos anos, mas as táticas de Beijing estão se tornando simultaneamente mais sofisticadas, mais agressivas e mais difíceis de detectar”.
Por isso, a ONG alerta pesquisadores, jornalistas e formuladores de políticas para que esperem “um aumento na intimidação diplomática, cyberbullying, manipulação por influenciadores contratados nas mídias sociais e campanhas de desinformação direcionadas a semear confusão sobre o PCC e suas próprias sociedades”.
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