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domingo, 25 de setembro de 2022

Bloqueios da Covid-19 na China mataram ao menos 22 pessoas em Xinjiang

Os bloqueios radicais impostos pelo governo da China para conter a Covid-19 levaram à morte de ao menos 22 pessoa na província de Xinjiang, onde Beijing é acusada de uma série de atrocidades contra a minoria uigur que ali vive. São casos de pessoas que morreram de fome e sem atendimento médico, de acordo com a rede Radio Free Asia.

As mortes foram confirmadas por autoridades e familiares das vítimas, sendo que estes últimos têm usado as redes sociais para pedir ajuda. Paralelamente, entidades uigures apelam à ONU (Organização das Nações Unidas), reunida em Nova York para a 77ª sessão de sua Assembleia Geral, para que tome uma atitude em vista das denúncias que constam do relatório entregue em 31 de agosto pelo escritório de direitos humanos.

Urumqi, capital de Xinjiang, com as montanhas de Yamalik ao fundo (Foto: Wikimedia Commons)

Uma das cidades duramente afetada pelo protocolo contra a Covid-19 é Ghulja, que tem cerca de meio milhão de habitantes, em sua maioria uigures e outros muçulmanos de origem turca. Ali, cerca de 600 pessoas foram detidas pelas autoridades na semana passada depois de um protesto popular contra as duras medidas adotadas pelo governo.

Vídeos chegaram a ser postados nas redes sociais, mas rapidamente foram censurados e apagados. Eles mostravam pessoas desesperadas em busca de comida e atendimento médico, com relatos de mortes. Nem todas as denúncias que surgiram nas imagens foram confirmadas de forma independente. Mas a reportagem diz ter conseguido apurar 22 delas.

As próprias autoridades locais admitiram as mortes. “Há 20 pessoas que morreram de fome. Não ligue novamente”, disse uma pessoa na prefeitura de Ghulja. Já outro funcionário municipal corrigiu o número para 22, mas se recusou a revelar outras informações. Um terceiro funcionário fez balanço semelhante, “cerca de 21 ou 22”. E negou que uma centena de pessoas tenham morrido, como sugerido nas redes.

Mesmo alimentos doados não têm chegado à população de Ghulja, devido à recusa de autoridades em fazê-lo ou às altas taxas cobradas para realizar a entrega. Uma mulher conta que o marido dela, que era presidente de uma vila local, foi mantido em quarentena pelo governo durante sete dias. Quando voltou para casa, estava desnutrido e doente. Acabou morrendo.

Um uigur que vive na Turquia denunciou a morte do pai na mesma cidade. Segundo ele, o homem, de 73 anos, estava bem de saúde, mas passou fome e precisou de atendimento durante a quarentena. Não foi autorizado a buscar ajuda e morreu de fome no dia 15 de setembro.

Por que isso importa?

A província de Xinjiang, que fica no noroeste da China, faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes linguísticas e étnicas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Em agosto, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.

O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.

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