Às vésperas dos debates de alto nível da Assembleia Geral, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, falou a jornalistas na quarta-feira (14) e avaliou que o mundo está “arruinado pela guerra, castigado pelo caos climático, marcado pelo ódio e envergonhado pela pobreza, fome e desigualdade”.
O chefe da ONU afirmou que o principal evento das Nações Unidas acontece em um momento de “grande perigo”, em que as divisões geoestratégicas são as mais marcadas desde a Guerra Fria.
Assim, enquanto diversos chefes de Estado e governo se preparam para participar no debate geral, em Nova York, Guterres pediu que eles levem esperança a um mundo fraturado e aumentem os esforços para combater a crise climática.
Em seu discurso, ele citou a visita ao Paquistão, onde esteve após as inundações que arrasaram grande parte do país. Um terço dos paquistaneses está em situação de vulnerabilidade.
Ao analisar a questão climática, ele afirma que sua passagem pelo país asiático foi como olhar para uma janela no futuro em que o caos é permanente e de escala “inimaginável”.
Responsabilidade do G20
O secretário-geral da ONU criticou a resposta global à crise climática, considerando como “inadequada, injusta e, em sua essência, uma traição”.
Ele afirmou que países que mais sofrem com os efeitos da mudança climática, como Paquistão, a região do Chifre da África, o Sahel e pequenas ilhas ou nações menos desenvolvidas, não são responsáveis pela crise, mas pagam “um preço terrível por intransigência dos grandes emissores”.
Visando os líderes das economias mais ricas do mundo, o chefe da ONU lembrou que eles são responsáveis pela maior parte das emissões e, embora também sejam fortemente impactados por secas, incêndios e inundações recordes, a resposta é direcionada apenas para dar suporte aos atingidos.
Ele ainda questionou qual seria a reação se um terço dos países do G20, em vez do Paquistão, estivessem atualmente submersos. Para Guterres, o grupo de nações de alta renda deveria liderar o caminho para reduzir as emissões anualmente até que o aumento da temperatura global seja limitado a 1,º C acima dos níveis pré-industriais.
O chefe da ONU também defendeu que as principais economias deveriam ser responsáveis por grande parcela do financiamento climático. “Abaixe a temperatura. Agora”, disse Guterres. “Não inunde o mundo hoje. Não o afogue amanhã.”
Crescente risco de fome
A secretário-geral da ONU elogiou o sucesso da Iniciativa de Grãos do Mar Negro, que permitiu que os suprimentos de alimentos e fertilizantes finalmente deixassem os portos ucranianos. A ação desempenhou um papel na redução dos preços globais dos alimentos, que atingiram níveis recordes após a invasão da Rússia.
No entanto, Guterres alerta que ainda há um risco real de fome em diversos lugar neste ano. Ele lembra que a fome global já estava aumentando antes da pandemia da Covid-19 e nunca se recuperou.
O chefe das Nações Unidas adicionou que muitos países estão lidando com uma crise de custo de vida, que atinge com mais força as pessoas e comunidades mais pobres, e os direitos de mulheres e meninas em todo o mundo estão sendo revertidos.
Guterres destacou que, em um momento de altas tensões geopolíticas, a falta de ação para deter a crise climática terá efeitos colaterais graves, como migração em massa e aumento da instabilidade.
Ele criticou as ações de políticos populistas que, segundo ele, estão mostrando “um desrespeito chocante pelos mais pobres e vulneráveis em nosso mundo”, colocando as pessoas umas contra as outras, empregando discriminação, desinformação e discurso de ódio.
Guterres concluiu afirmando que o debate geral deste ano deve ser sobre dar esperança que “só pode vir através do diálogo e do debate, que são o coração pulsante das Nações Unidas”.
África
Ao responder sobre iniciativas para ajudar os países em desenvolvimento, especialmente aos da África, Guterres afirmou que eles sofrem com uma “tempestade perfeita”, tendo de lidar com a crise causada pela pandemia, pelas mudanças climáticas e pelos resultados da guerra na Ucrânia.
Ele defendeu que medidas sejam adotadas para dar liquidez e aliviar a dívida desses países, com uma reforma do sistema financeiro, já que avalia o atual como “criado pelos ricos, para os ricos”.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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