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terça-feira, 27 de setembro de 2022

Onda de violência jihadista faz novas vítimas em Burkina Faso, entre militares e civis

A violência jihadista parece fora de controle em Burkina Faso, que registrou mais um ataque contra as forças de segurança do país nos últimos dias. Na segunda-feira (26), o governo anunciou que cerca de 12 pessoas, essencialmente militares, morreram em um ação atribuída a grupos extremistas. As informações são do site The Defense Post.

Um comboio carregado de suprimentos que seriam levados a cidadãos burquinenses foi atacado. O alvo específico da ação foi, aparentemente, a escolta militar que protegia os veículos. Em comunicado, as forças armadas disseram se tratar de “ataque terrorista”.

O número preciso de vítimas não foi anunciado imediatamente pelos militares, que confirmaram apenas “perdas humanas e materiais”. Já uma fonte do exército que não quis se identificar apontou para “cerca de uma dúzia de mortos entre os membros da unidade”. Também há “um número de pessoas seriamente feridas”.

No final de semana, o governo havia registrado outros dois ataques com vítimas. No sábado (24), ao menos dois soldados e dois civis morreram perto das fronteiras com Níger e Benin quando uma patrulha sofreu uma emboscada armadas por insurgentes. No domingo (25), uma explosão atingiu outro comboio e deixou quatro feridos.

Soldados das forças de Burkina Faso em simulação de ataque terrorista (Foto: U.S. Army/Divulgação)
Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de facções da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI), insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com cerca de 40% do território nacional fora do controle do governo central. Burkina Faso superou o Mali e o Níger como epicentro da violência jihadista na região.

pior ataque extremista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou nos últimos meses, após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que vinha enfrentando protestos pela forma como lidou com a sangrenta insurgência jihadista. Desde então, o problema só aumentou.

Para especialistas, os recentes ataques sugerem que os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país após a tomada do poder. “Os novos ataques sinalizam uma onda crescente de militância no norte de Burkina Faso e levantam preocupações sobre o alcance crescente de grupos terroristas que, sem dúvida, estão dificultando ainda mais o trabalho da junta de proteger o país”, disse Laith Alkhouri, CEO da Intelonyx Intelligence Advisory, uma empresa que realiza análises no setor de inteligência.

Os ataques de grupos extremistas geraram uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugirem de suas casas, com cerca de duas mil mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase 5 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar, com quase 3 milhões em situação de insegurança alimentar aguda no país.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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