Um ataque realizado por um terrorista suicida deixou 21 soldados do Paquistão feridos na terça-feira (27) no distrito tribal do Waziristão do Norte, noroeste do país e perto da fronteira com o Afeganistão. As informações são do jornal indiano Siasat Daily.
O alvo do atentado foi um comboio do exército que seguia pela estrada de Mir Ali. Todos os feridos foram imediatamente levados a uma base do exército para receber atendimento, e o estado de saúde deles foi informado como “estável”.
Nenhum grupo assumiu oficialmente a autoria da ação, que ocorre em meio ao ressurgimento do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. Trata-se de uma facção extremista islâmica que vinha negociando um cessar-fogo com Islamabad. Diante do fracasso do acordo, os radicais voltaram a realizar ataques contra as forças do governo.
Somente no Waziristão do Norte, historicamente um reduto importante do TTP, mais de 50 pessoas, entre líderes locais, filantropos, políticos, jovens, estudiosos religiosos e agentes de segurança, foram mortas recentemente em ataques direcionados que levam as características do grupo extremista.
Na semana passada, um jovem havia sido morto a tiros na cidade de Mir Ali, em um desses episódios de violência possivelmente associados ao ressurgimento do Taleban do Paquistão.
De acordo com Muhammad Ali Saif, conselheiro do ministro-chefe da província de Khyber Pakhtunkhwa, na qual estão inseridas as áreas tribais onde ocorreram os últimos ataques, as negociações de paz entre o governo e os extremistas estão paralisadas, mas não encerradas.
Por que isso importa?
Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.
O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.
À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, mas confrontos esporádicos continuam a ocorrer.
A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.
Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.
Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.
O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.
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