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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Mobilização anunciada por Putin gera protestos, fuga de cidadãos e mais de mil prisões na Rússia

Milhares de cidadãos russos reagiram com indignação à decisão do presidente Vladimir Putin de mobilizar 300 mil reservistas para que se juntem às tropas do país na guerra em curso na Ucrânia. O anúncio foi feito na quarta-feira (21), e já no primeiro dia foram registrados protestos populares, aumento na busca por passagens aéreas para deixar o país e mais de mil detenções de manifestantes.

Alexei Navalny, principal opositor doméstico do Kremlin e atualmente encarcerado em uma colônia penal próxima a Moscou, puxou o coro. Ele se manifestou durante uma audiência judicial da qual participou por videoconferência.

“A guerra criminosa de agressão de Putin está piorando. Ele quer espalhar sangue no maior número de pessoas possível. Para prolongar seu poder pessoal, ele está atormentando o país vizinho e jogando ainda mais russos no moedor de carne que é esta guerra”, disse Navalny.

Lyubov Sobol, aliada de Navalny e atualmente exilada, publicou em sua conta no Twitter um vídeo que mostra o que seriam cidadãos russos protestando contra a guerra nas ruas de Moscou. “Valentes”, disse ela sobre os manifestantes.

O movimento democrático jovem Spring (Primavera, em tradução literal) vociferou contra a decisão em sua conta no Instagram. “Os deputados e funcionários que diariamente gritavam sobre a necessidade de mobilização permanecerão em suas cadeiras quentes, vivos e bem. Acreditamos que eles devem ser mobilizados e enviados para a Ucrânia. Vamos deixá-los morrer por suas fantasias doentias e não enviar caras comuns para a morte”.

De acordo com o jornalista governista Ilya Remeslo, que se manifestou pelo aplicativo de mensagens Telegram, “fontes confiáveis” alegam que pessoas que tenham ido às ruas protestar serão as primeiras a serem convocadas para a guerra.

“Eles vão checar os documentos imediatamente no local, identificá-los, detê-los e enviá-los às corregedorias”, afirmou ele, segundo a agência catari Al Jazeera. “Então, juntamente com o registro e recrutamento militar, será determinada a categoria do alistado. Aqueles que não se encaixem imediatamente na primeira categoria serão registrados para recrutamento subsequente”.

Detenções em massa e fuga

Somente na quarta, a ONG OVD-Info, que monitora a repressão no país, relatou que 1.383 pessoas foram detidas em 30 cidades russas. E alertou que o número real pode ser bem maior. “Cada departamento de polícia pode ter mais detidos do que listas publicadas. Publicamos apenas os nomes das pessoas sobre as quais sabemos com certeza e cujos nomes podemos publicar”, disse a entidade.

Na cidade de Ulan-Ude, capital da região da Burácia, pessoas foram às ruas exibindo cartazes com frases como “Não à guerra”, “Não à mobilização” e “Nossos maridos, pais e irmãos não querem matar outros maridos, pais e irmãos”, de acordo com o jornal independente The Moscow Times. Já em Tomsk, na Sibéria, um indivíduo ergueu uma placa dizendo “Abrace-me se você também estiver com medo”.

Entre os que contestam a decisão de Putin estão, claro, os homens em idade de convocação. Um deles, de 30 anos, disse que não quer “ser bucha de canhão” na guerra, segundo o mesmo periódico. Assim, a busca por passagens aéreas internacionais aumentou drasticamente, possivelmente devido à intenção de muitos cidadãos de deixar o país para evitar um eventual recrutamento.

Manifestantes detidos em Moscou no dia 21 de setembro (Foto: reprodução de vídeo)

Voos para países como Armênia, Turquia e Azerbaijão, que fazem fronteira com o território russo e não exigem visto de entrada, rapidamente se esgotaram. Outras rotas tiveram um grande aumento de preço, com alguns destinos, como Dubai, superando os 170 mil rublos (R$ 14 mil) para um voo somente de ida.

“Meu irmão está com medo. Estamos tentando com urgência comprar uma passagem de avião para algum lugar”, disse uma russa cujo irmão completou recentemente o serviço militar. “Só esperamos que ele possa cruzar a fronteira russa sem problemas”.

Na terça, um dia antes de anunciar a mobilização, o parlamento russo aprovou um lei que prevê dez anos de prisão para os desertores, mesma pena imposta aos militares que se entregarem voluntariamente às forças inimigas.

A lei usa termos antes inéditos na Constituição russa, como “mobilização”, “lei marcial” e “tempo de guerra”, e abriu caminho para o recrutamento anunciado por Putin na sequência. Trata-se da maior convocação desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com a agência Reuters.

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