O sistema de pagamentos chinês Union Pay, até então a única alternativa dos consumidores russos para realizar pagamentos no exterior, decidiu parar de aceitar transações realizadas com cartões emitidos por bancos da Rússia sob sanção ocidental. As informações são do site russo RBC.
A decisão da empresa chinesa estaria diretamente relacionada às sanções impostas a Moscou em função da agressão à Ucrânia. A Union Pay vinha sendo a única operadora estrangeira de serviços de pagamento a operar na Rússia, após Visa e Mastercard encerrarem suas operações devido à guerra.
Em abril, a empresa chinesa já havia determinado aos bancos parceiros na Rússia que deixassem de emitir cartões com bandeira Union Pay, e agora até os cartões que estavam operantes deixaram de funcionar.
Cidadãos russos que vinham utilizando cartões com a bandeira Union Pay emitidos por bancos da Rússia já relatam dificuldades para realizar pagamentos nos EUA, em Israel e em países de Europa, Ásia e Oriente Médio, segundo o jornal The Moscow Times.
O efeito das sanções
As saídas de Visa e Mastercard e o recuo da Union Pay não tiveram efeito doméstico dentro da Rússia, que utiliza em seu território o sistema Mir, desenvolvido em 2014 e que funciona em um grupo restrito de países. Entretanto, os cidadãos locais ficaram sem opções para efetuar pagamentos no exterior.
A emissão de cartões inseridos no sistema Mir tem aumentado exponencialmente na Rússia, e dados divulgados no mês de abril falavam em mais de cem milhões de unidades emitidas. Somente entre o final de 2021 e março de 2022, o NSPK (Sistema Nacional de Pagamento com Cartão, da sigla em russo) diz ter emitido dois milhões de cartões para uso doméstico.
Para dar conta dessa demanda, o governo da Rússia vinha recorrendo a empresas da China em busca de chips usados em cartões bancários. Já o sistema da Union Pay era a melhor alternativa para dar aos cidadãos russos uma alternativa quando precisassem realizar pagamentos em viagens a outros países.
Inicialmente, essa situação parecia ser um ótimo negócio para a companhia chinesa. Entretanto, o cenário mudou devido ao temor da empresa de entrar na mira dos EUA e da União Europeia (UE). Caso viesse a desobedecer as sanções ocidentais, a Union Pay poderia, por exemplo, ser proibida de realizar negócios com norte-americanos e europeus, sendo assim excluída do sistema financeiro global.
Sanções contestadas
Desde o início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, a China deixa clara sua oposição às sanções impostas à Rússia. No final de março, com a guerra tendo recém completado um mês, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian afirmou que Beijing “desaprova a solução de problemas por meio de sanções e se opõe ainda mais a sanções unilaterais e jurisdições de longo alcance que não têm base no direito internacional”.
Segundo Zhao, a China não admite ser forçada a “escolher um lado ou adotar uma abordagem simplista de amigo ou inimigo. Devemos, em particular, resistir ao pensamento da Guerra Fria e ao confronto do bloco”.
Entretanto, de lá para cá as empresas chinesas começam a notar que talvez seja inviável manter os laços comerciais com Moscou sem pagar um alto preço. As três maiores empresas de petróleo da China foram aconselhadas a suspender os investimentos na Rússia. Igualmente, dois dos maiores bancos de crédito chineses deixaram de oferecer a seus clientes opções de investimento em commodities russas.
A Huawei é outra que passou a respeitar as sanções. A empresa, que já não é bem vista no Ocidente devido às acusações de servir ao governo chinês, teme se distanciar ainda mais desse importante mercado caso venha a desobedecer as determinações.
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