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quinta-feira, 8 de setembro de 2022

A extorsão de Vladimir Putin não deve ter sucesso

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site da rede CNN

Por David A. Andelman

Vladimir Putin está fazendo o seu melhor para fortalecer a Europa. Essa é a única maneira de analisar os comentários feitos na segunda-feira (5) por seu porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, de que o gás natural russo não começará a fluir novamente pelo enorme oleoduto Nord Stream 1 até que o Ocidente levante as sanções contra a Rússia. Este último movimento “aumentou significativamente o risco de que a Europa não receba mais fluxos de gás através do Nord Stream 1 durante todo o inverno”, disseram analistas da consultoria de energia Rystad Energy em um relatório de pesquisa citado pela rede CNBC.

Não há outro nome para isso além de extorsão. Essa é uma má ideia a curto prazo para a Europa e a longo prazo para a Rússia.

O Ocidente impôs sanções contra Moscou depois que as tropas de Putin invadiram a Ucrânia em fevereiro. Putin, é claro, nunca foi muito hábil em jogar o jogo longo. Seu jogo curto, no entanto, infligiu dor e sofrimento sem fim. Este é certamente o caso da Europa. Mas, por uma série de razões, a Europa e o Ocidente têm de permanecer firmes e unidos. É a única maneira real de combater um valentão.

A Europa reagiu rápida e decisivamente. Mesmo antes das observações de Peskov, grande parte do continente começou a implementar medidas para amenizar os golpes de cortes que já haviam começado e os preços crescentes da energia e as consequências inflacionárias que estão afetando milhões. A primeira página do jornal francês Le Monde na segunda-feira trazia a manchete: “Preço da energia: Estados europeus se mobilizam”. A inflação na zona do euro está em 9,1% – mais de quatro vezes a meta de 2% -, e uma pesquisa da Reuters sugere que o continente está “quase certamente entrando em recessão”.

Vladimir Putin: gás natural virou arma econômica contra a Europa (Foto: Kremlin.ru/Divulgação)

Enquanto isso, em uma reunião na segunda-feira de ministros do petróleo dos principais países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), bem como de outros grandes produtores de petróleo, incluindo a Rússia, foi tomada a decisão de reduzir as metas de produção pela quantidade relativamente pequena – mas não insignificante – de cem mil barris por dia. Esse movimento foi exatamente o oposto da promessa da Opep de aumentar a produção nesse valor após a controversa cúpula do presidente Joe Biden com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman no Palácio Real de Al Salam em julho. A reunião foi uma má ideia, agora ainda pior. Em poucos minutos, a ação da Opep de segunda-feira fez os preços do petróleo dispararem 3% nos mercados mundiais.

Para lidar com esses desafios, desde o aumento dos custos de energia até a explosão da inflação vertiginosa, vários países começaram a tomar medidas radicais. No domingo, o governo federal de Berlim anunciou um plano de ajuda de US$ 65 bilhões para as famílias alemãs. A nova primeira-ministra da Grã-Bretanha, Liz Truss, está contemplando um plano de resgate semelhante, que fontes do Ministério das Finanças disseram ao Sunday Times que provavelmente excederá 100 bilhões de libras (US$ 115 bilhões).

Uma reunião de ministros de energia europeus em 9 de setembro apresentará a discussão de um plano para limitar os preços do gás natural em todo o continente. E os ministros de energia do G7 concordaram em impor um teto de preço ao petróleo e derivados russos a partir de dezembro, com o objetivo de cortar as receitas do Kremlin e enfraquecer as bases financeiras da Rússia, permitindo que seu petróleo continue abastecendo os mercados mundiais.

Também na segunda-feira, líderes de dois dos pilares do continente, o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz, realizaram uma videoconferência para discutir energia. Em uma entrevista coletiva após a reunião, Macron disse a repórteres que chegaram a um acordo: a França fornecerá à Alemanha seu excedente de gás e, em troca, a Alemanha enviará à França a eletricidade que gera. Macron também pediu aos residentes da França que reduzam seu consumo de energia em 10%. Cortes, ou racionamento, disse ele, seriam “apenas um último recurso”.

Mas não é provável que a dor diminua tão cedo. O euro caiu para uma baixa de 20 anos em relação ao dólar na segunda-feira, após os comentários de Peskov. O Banco Central Europeu (BCE) pensa em introduzir um aumento acentuado de 50 ou 75 pontos base nas taxas de empréstimo em todo o continente, refletindo o caminho que o Federal Reserve dos EUA vem seguindo há meses. “Uma mudança hawkish”, como colocou o Financial Times de Londres. “Não há pombas no BCE, apenas falcões médios e uber-falcões”, disse Katharina Utermöhl, economista sênior europeia da seguradora alemã Allianz ao FT. O banco pode até começar a encolher seu balanço patrimonial de 9 trilhões de euros em títulos.

A Europa tem outras alternativas, embora sejam menos atraentes e menos impactantes, com certeza. Os gasodutos da era soviética ainda estão vendo um fluxo de gás natural através da Ucrânia, ininterrupto apesar da invasão russa e das objeções dos líderes da Ucrânia, através da Turquia. O aumento da oferta de poços de petróleo do Mar do Norte controlados pela Noruega e pela Grã-Bretanha poderia ajudar a Europa a superar o problema, até que, talvez, a razão possa retornar ao Kremlin. Mas a perfuração renovada no Mar do Norte pode ser altamente controversa devido a preocupações ambientais de longa data.

Certamente é um preço que vale a pena pagar, mas a dor será severa e já houve rumores de resistência. Matteo Salvini, líder do partido de extrema direita da Itália, a Liga, afirmou no fim de semana que as sanções realmente ajudaram a Rússia a acumular um superávit de pagamento de US$ 140 bilhões, prejudicando a economia da Europa – especialmente a da Itália. “Eu não gostaria que as sanções prejudicassem mais aqueles que as impõem do que aqueles que são atingidos por elas”, proclamou Salvini. A Liga de Salvini está unida em uma coalizão com outros partidos italianos de direita que detêm uma liderança substancial nas eleições nacionais de 25 de setembro, de acordo com uma pesquisa do site Politico.

Apropriadamente, a Ucrânia e grande parte da Europa oficial estão resistindo aos apelos para reverter as sanções. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em uma conversa por telefone com a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pressionou a Europa a apertar ainda mais os parafusos da Rússia com uma nova rodada de sanções.

Uma vontade forte é essencial nas urnas e nos ministérios e parlamentos em todo o continente. Putin tem apoio substancial em alguns setores ainda isolados. Deve haver uma compreensão igualmente profunda por parte do Ocidente de quão alto seria o preço de qualquer redução em face da arrogância russa.

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