O jornalista belarusso Henadz Mazheyka foi preso após escrever um artigo sobre uma operação do Comitê de Segurança do Estado (KGB, na sigla em russo) em um apartamento na capital Minsk na semana passada, que resultou em duas mortes. As informações são da Radio Free Europe (RFE).
Mazheyka, correspondente da sucursal belarussa do jornal Komsomolskaya Pravda, de Moscou, é acusado de insultar um funcionário governamental e incitar ódio, justificou o Ministério do Interior na segunda-feira (4). As acusações podem render a ele até 12 anos de cadeia.
O jornalista foi levado sob custódia após a repercussão do texto sobre a ação policial, que também resultou na morte de um oficial da KGB. Após o episódio, cerca de 120 pessoas foram detidas com base nas mesmas acusações. De acordo com o grupo de direitos humanos Vyasna, maior órgão do gênero do antigo país soviético e uma das principais fontes de informação sobre prisões políticas, as detenções têm relação com comentários sobre o incidente em redes sociais.
Segundo o Ministério do Interior, Mazheyka foi preso na última sexta-feira (1º) ao chegar a Minsk vindo da Rússia, de onde teria tentado embarcar para outro país. As autoridades russas ordenaram que ele retornasse a Belarus, já que havia sido rotulado como uma “pessoa indesejável” na Rússia.
Matéria do jornal Komsomolskaya Pravda, que ouviu parentes de Mazheyka, diz que o jornalista foi transferido na terça (5) para um centro de detenção na cidade de Zhodina, perto de Minsk.
O Sindicato dos Jornalistas da Rússia instou as autoridades belarussas a libertarem imediatamente o jornalista e descrevem sua prisão como “pressão sobre o jornalismo independente” de Belarus.
Segundo relatórios mensais do
Vyasna, a polícia local promove todos os meses centenas de batidas em escritórios e apartamentos de ativistas e jornalistas. Dezenas deles permanecem sob custódia, aguardando julgamento ou cumprindo pena.Repressão pós-eleições
As autoridades do país aumentaram a pressão contra organizações não governamentais e a mídia independente como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais das eleições presidenciais de agosto de 2020.
As autoridades eleitorais declararam Lukashenko o vencedor, mas os manifestantes e líderes da oposição dizem que os resultados foram fraudados a seu favor.
A oposição e a comunidade internacional se recusam a reconhecer Lukashenko como o líder legítimo do país e reivindicam um novo pleito monitorado de forma independente.
Por que isso importa?
Belarus testemunha uma crise de direitos humanos “sem precedentes”. Existem fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra cidadãos.
O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.
A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, afirmou em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.
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