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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Forças especiais dos EUA treinam tropas de Taiwan em segredo há quase um ano

Soldados encarregados de operações especiais dos Estados Unidos estão treinando secretamente tropas de Taiwan há meses, num intercâmbio militar que contraria a China e pode agravar as já turbulentas relações entre os países. As informações são do portal The Defense Post.

Um destacamento de cerca de 20 membros das operações especiais e de forças militares convencionais dos EUA têm conduzido os treinamentos desde 2020, segundo um funcionário do Pentágono que fez a revelação em condição de anonimato, na quinta-feira (7).

O oficial também confirmou as informações divulgadas pelo jornal The Wall Street Journal de que as forças terrestres e marítimas taiwanesas passaram por um período de capacitação aplicado por 20 soldados norte-americanos “durante pelo menos um ano”, em meio às vertiginosas ameaças verbais de Beijing contra a ilha semiautônoma.

Soldados taiwaneses durante treinamento (Foto: Pxfuel/Divulgação)

O Ministério da Defesa de Taiwan não se pronunciou sobre o caso. Já o Pentágono, por meio de seu porta-voz, John Supple, disse que o apoio dos EUA às forças taiwanesas é proporcional às suas necessidades de defesa.

“Nosso apoio e relacionamento de defesa com Taiwan permanecem alinhados contra a atual ameaça representada pela República Popular da China”, disse Supple em um comunicado.

O primeiro-ministro de Taiwan, Su Tseng-chang, declarou que “uma causa justa sempre atrai muito apoio”. Ele prosseguiu: “Estamos fazendo todos os esforços para defender nossa soberania nacional e nosso povo, bem como manter a paz regional. Estamos fazendo tudo o que podemos e apreciamos países com ideias semelhantes trabalhando juntos”, disse ele.

Perigo real

A aproximação pode colocar em perigo o aliado insular dos EUA. Nos últimos dias, 149 aeronaves militares chinesas invadiram o espaço aéreo taiwanês, um gesto de intimidação que fez crescer a tensão que já estava instalada no Estreito de Taiwan.

Diante da iminente ameaça de ação militar chinesa, ministério da Defesa de Taiwan quer se armar e pediu em setembro aos legisladores US$ 17 bilhões como orçamento militar para 2022. O valor pagaria, entre outras coisas, novos mísseis de defesa aérea, quatro drones armados e munição para a crescente frota de novos caças F-16V.

Autoridade francesa chama Taiwan de “país”

A França também colaborou para aquecer as coisas em Taiwan. Durante visita à ilha na quinta-feira (7), o chefe de uma delegação francesa de senadores, Alain Richard, chamou o território de “país”, tratamento diplomático não oficial que causa profunda irritação em Beijing, informou a rede France24.

Ao receber uma medalha de honra do presidente Tsai Ing-wen, Richard, ex-ministro da Defesa, agradeceu o gesto e disse que a embaixada taiwanesa em Paris vem fazendo “um trabalho muito bom na representação de seu país”. A fala foi uma gafe diplomática, já que a França, como a maioria dos países, reconhece oficialmente que o governo autônomo de Taiwan faz parte do território da China.

Alain Richard é recebido em 2014 pelo ex-presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou (Foto: Taiwan Presidential Office/Flickr)

A embaixada chinesa em Paris alertou em seu site oficial que a visita prejudicaria os interesses da China, as relações sino-francesas e “a imagem da França”.

O embaixador de Beijing escreveu uma carta a Richard em fevereiro, dizendo que a visita “violaria claramente o princípio de “Uma só China” e enviaria um sinal errado às forças pró-independência em Taiwan”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como território chinês.

Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan, e agora já invadem o espaço aéreo da ilha, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra”.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site norte-americano Business Insider.

O documento, lançado pelo governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do Pentágono.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

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