O Kremlin confirmou nesta quinta-feira (7) que convidou uma comitiva do Taleban para visitar a Rússia. O encontro está agendado para acontecer no dia 20 de outubro, mas ainda não há informações sobre quem os talibãs enviarão como representante. As informações são da agência estatal russa RIA Novosti.
A confirmação partiu de Zamir Kabulov, o representante da presidência russa no Afeganistão. Questionado por jornalistas, ele confirmou, ainda, que Moscou pretende enviar ajuda humanitária ao Afeganistão, embora não tenha entrado em detalhes sobre o assunto.
Nos últimos anos, Moscou recebeu representantes do Taleban para uma série de negociações, atuando como mediador a fim de buscar um acordo de paz entre o grupo extremista e o antigo governo afegão, agora deposto pelos talibãs. A última reunião ocorreu em julho, um mês antes da queda de Cabul.
Apesar da aproximação, a Rússia não chegou a reconhecer o Taleban como governo legítimo e mantém o veto ao grupo, ainda classificado como terrorista no país. A situação é semelhante à da China, que mantém contato frequente com os talibãs, com quem inclusive negocia acordos comerciais, embora ainda não os tenha reconhecido como governantes afegãos legítimos.
Ajuda humanitária
As recentes ações do Taleban indicam reconhecimento da importância da ajuda humanitária. Dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgados em agosto apontam que dez milhões de crianças no Afeganistão precisam receber assistência para sobreviver. Segundo o órgão, um milhão de menores poderão sofrer de desnutrição severa ainda neste ano, com o risco de morrerem se não receberem apoio.
No início do governo talibã, o maior desafio era a entrada de medicamentos e de outros suprimentos vitais a milhões de afegãos no país, cujo acesso era dificultado pelos talibãs. Agora, frente à pressão internacional e à necessidade de reconhecimento como governo oficial, os extremistas têm facilitado o acesso humanitário e até marcam presença em eventos de entrega de suprimentos no Aeroporto de Cabul.
Entretanto, o Unicef e a OMS (Organização Mundial de Saúde) destacam que, mesmo antes de o Taleban conquistar o país, o Afeganistão já representava a terceira maior operação humanitária do mundo, com mais de 18 milhões de pessoas precisando de assistência.
Por que isso importa?
Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo extremista chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país. O órgão, por outro lado, recusou o pedido para que um enviado talibã discursasse na Assembleia Geral.
Representantes do Reino Unido também receberam autoridades talibãs, e na ocasião pressionaram para que cidadãos britânicos fossem autorizados a deixar o Afeganistão, além de questionarem sobre os direitos das mulheres. Rússia, Irã, China, Uzbequistão, Turcomenistão e Paquistão estão entre as nações que mantém contato mais próximo com os novos governantes afegãos.
Até agora, porém, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país. Mais do que legitimar o poder talibã internacionalmente, esse reconhecimento é crucial para fortalecer financeiramente um país pobre e sem perspectivas imediatas de gerar riqueza. Inclusive, os Estados Unidos, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortaram o acesso de Cabul a mais de US$ 9,5 bilhões em empréstimos, fundos e ativos.
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