A maioria das crianças refugiadas não retornará às salas de aula após a reabertura das escolas, de acordo com a última pesquisa da Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados) publicada na quinta (3).
A evasão é ainda mais grave entre as meninas, que já tinham menor acesso à educação na comparação com os meninos refugiados. Todas as meninas consultadas para a pesquisa correm o risco de abandonar os estudos de vez.
A chance de não voltar à escola aumenta em países onde a taxa bruta de matrícula de meninas refugiadas é inferior a 10%. Em 2019, metade das crianças refugiadas estava fora da escola.
A principal base de dados da pesquisa veio de 12 países, aqueles que acolhem mais da metade das crianças refugiadas do mundo. A Acnur investigou os registros de matrículas nessas nações para estimar a taxa de retorno dos pequenos após a pandemia.
A situação dos pequenos refugiados, que já era grave antes da pandemia, tornou-se pior em 2020.
Ainda que todas as crianças tenham sido afetadas pela Covid-19, os menores que foram obrigados a deixar seus países de origem têm o dobro de chances de parar de estudar antes da hora.
No ensino fundamental, a taxa de crianças refugiadas matriculadas é 77%, mas no ensino médio os números caem para 31%.
As matrículas no ensino superior são ainda menores: apenas 3% dos refugiados têm acesso à universidade.
Evasão
Os motivos para evasão vão desde o bloqueio das instituições para contenção do vírus até dificuldades em arcar com os custos da educação. Sem aparelhos eletrônicos, de rádio e televisão ou internet, torna-se impossível garantir que os alunos terão acesso às aulas remotas.
Deslocados na sociedade que os acolheu, os refugiados são os que mais sofrem com o desemprego e a falta de vagas formais de trabalho, observou a Acnur. Como consequência, a exploração do trabalho infantil pode tornar-se prática entre famílias que não conseguem renda suficiente para viver.
De acordo com a Acnur, 85% dos refugiados vivem em países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos.
O relatório insta os governos e a sociedade civil a buscar soluções. “Sem a colaboração de todos, corremos o risco de perder uma geração de crianças refugiadas, privadas de educação“, disse Filippo Grandi, alto-comissário da ONU para refugiados.
Além da pandemia, o relatório também chama atenção para os ataques a escolas. A região africana do Sahel, onde a violência já forçou o fechamento de cerca de 2,5 mil escolas, é uma das mais afetadas. Estima-se que 350 mil alunos estão sem aulas por conta dos atentados.
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