A recente descoberta de um banco de dados da empresa chinesa Zhenhua Data, contendo mais de 2,4 milhões de registros de pessoas físicas, voltou a gerar preocupação sobre operações chinesas de coleta de inteligência;
Dos dados divulgados, apenas 10% foram recuperados. São cerca de 250 mil registros sobre cidadãos de países como Estados Unidos, Austrália, Índia, Grã-Bretanha, Canadá, Malásia, Papua Nova Guiné e Nova Zelândia.
Mais de 35 mil australianos estão no banco de dados. Há políticos estaduais e federais, oficiais militares, diplomatas, acadêmicos, funcionários públicos, executivos, engenheiros, jornalistas, advogados, contadores e artistas.
Destes, há 656 apresentados na lista como “interesse especial” ou “politicamente expostos”. De acordo com reportagem da australiana ABC, a os termos indicam pessoas com alta visibilidade ou no topo das cadeias decisórias de seus setores.
O setor militar também parece ser de particular interesse para a empresa de origem chinesa. O banco de dados rastreia, entre outras questões, as perspectivas de promoção de oficiais e redes políticas.
De acordo com o presidente-executivo da Internet 2.0, Robert Potter, responsável pela decodificação dos arquivos, a Zhenhua tem capacidade de rastrear embarcações navais e ativos de defesa.
Segundo Potter, os dados servem para avaliar a carreira de oficiais militares e catalogar a propriedade intelectual com base nos países considerados concorrentes da China.
Em um exemplo, a progressão da carreira de um oficial da Marinha dos EUA foi monitorada de perto. Logo, o homem foi sinalizado como futuro comandante de um porta-aviões nuclear.
“Esta coleta em massa de dados está ocorrendo no setor privado da China, da mesma forma. Pequim terceiriza sua capacidade de ataque cibernético para subcontratados privados”, disse Potter à ABC.
Nós de coleta
De acordo com a reportagem, Zhenhua tem cerca de 20 “nós de coleta” espalhados pelo mundo. Esses pontos servem para coletar dados e enviá-los de volta para a China.
Na maioria das vezes suas localizações são confidenciais, mas dois desses “nós” foram identificados: um no Kansas, estado no meio-oeste dos EUA, e outro na capital sul-coreana, Seul.
“A empresa se orgulha de ter 20 centros de coleta de informações espalhados pelo mundo”, disse Clive Hamilton, da Universidade Charles Sturt, na Austrália. “Onde fica esse centro? E, se pudermos encontrá-lo, não deveríamos fechá-lo? Parece haver violação de todos os tipos de leis.”
Razões para a coleta
Suspeita-se que as informações coletadas pela Zhenhua Data sejam utilizadas pelo serviço de inteligência da China, vinculado ao Ministério da Segurança do Estado.
De acordo com a ABC, muitas das informações foram retiradas de material de código aberto, como redes sociais. Boa parte viria de registros bancários, formulários de emprego e perfis psicológicos. É possível que a empresa tenha utilizado a “dark web”, os cantos da internet que não são rastreados por meio dos mecanismos de busca comuns.
“A China está construindo um estado de vigilância massiva tanto dentro do país quanto internacional”, afirmou o pesquisador Chris Balding, que passou pela Universidade de Beijing, à reportagem. “Eles estão usando uma ampla variedade de ferramentas, para formar esse banco”, afirma.
Balding é um acadêmico norte-americano, à época baseado no Vietnã, para quem o banco de dados da empresa de inteligência foi vazado.
O professor havia trabalhado, até 2018, na elite da Universidade de Pequim antes de deixar a China, temendo sua segurança física. O material chegou até ele por conta de artigos sobre a gigante chinesa de tecnologia Huawei.
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