“Quero ver o que acontece no local mais sagrado para os muçulmanos”, disse Ariel Sharon ao cruzar os portões do Santuário Al-Aqsa, em Jerusalém, em 28 de setembro de 2000.
A frase, acompanhada de ironia, gerou gritos de protesto de palestinos em meio a policiais fortemente armados. Ao pisar ali, o ex-militar transformado em político conservador afirmava carregar uma “mensagem de paz”.
Sua entrada na Mesquita de Al-Aqsa, terceiro lugar mais sagrado para o Islã – atrás apenas das cidades sagradas de Meca e Medina, na Arábia Saudita – foi o estopim para o início da Segunda Intifada.
Do árabe, “intifada” define a resistência do povo palestino contra a política de apagamento da identidade dos povos árabes que habitavam a região antes de 1948.
Vinte anos depois, a Al-Aqsa ainda é assunto sensível. No coração de Jerusalém, sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos, a mesquita do século 8 e a cidade que a abriga são alvo constante de ataques extremistas.
Para os islâmicos, o local foi construído acima da pedra onde o profeta Maomé subiu aos céus após sua viagem de Meca a Jerusalém. Os judeus, por outro lado, têm o local como aquele em que o rei Salomão teria construído os primeiros templos sagrados do judaísmo.
Na Segunda Intifada, os filhos da já exausta comunidade palestina, que perdem território desde a Guerra Árabe-Israelense (1947-1948), começaram a agir em levantes na Cidade Velha de Jerusalém.
Enquanto o Estado judeu reagia com violência, o confronto se espalhava pelos territórios ocupados da Cisjordânia e da Faixa da Gaza.
Entre seus resultados a contraofensiva israelense estão a supressão da revolta e a saída por terra do Exército israelense da Faixa de Gaza. Foi também o estopim para a construção do muro, que hoje tem 708 quilômetros, e separa Israel da Cisjordânia.
Consequências
Em cinco anos, mais de quatro mil palestinos e mil israelenses morreram nos confrontos. Marcados por intensa violência, milhares ficaram feridos e mais de sete mil palestinos foram presos.
À época, helicópteros concedidos pelos Estados Unidos disparavam em “ações punitivas” onde não havia “qualquer perigo iminente de vida”, concluiu um relatório da Anistia Internacional.
Com milhares de perdas, a Segunda Intifada pouco somou à comunidade palestina. Para Sharon, a invasão à Mesquita Al-Aqsa propiciou sua ascensão como primeiro-ministro de Israel com 62% dos votos e apoiado pelo partido de direita, até então na oposição, Likud.
Sharon morreu em 2014, aos 85 anos, após oito anos em coma, e sua morte foi celebrada pelos palestinos. Sob o então premiê, no cargo por cinco anos, também pesavam acusações de crime contra a humanidade por conta dos massacres de Sabra e Chatila, no Líbano, em 1982.
A segunda Intifada teria como consequência mais evidente a reconfiguração da ordem política israelense. Hoje, essa tendência é personificada no atual premiê Benjamin Netanyahu, no poder desde 2009.
Foi na Intifada de 2000 a 2005 que abriu-se o caminho para a ascensão dessa direita desconfiada dos palestinos, que rejeita os Acordos de Oslo, de 1994, e empenhada não fazer concessões territoriais – afinal, estes seriam espaços livres para o aumento dos ataques contra Israel.
A análise, do repórter do “Haaretz” Anos Harel, foi o propulsor de uma “grande ansiedade a respeito da segurança pessoal, algo que reflete em todas as eleições gerais”.
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