O dia 22 de setembro de 2020 marca o aniversário de 40 anos do início da guerra entre Irã e Iraque, que durou oito anos. Entre 1980 e 1988, um milhão de pessoas morreram e os prejuízos chegam a US$ 1 trilhão, em valores corrigidos.
A disputa terminou após a assinatura de um acordo de paz durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Ambos os lados, exauridos, reclamaram vitória.
O conflito foi na prática uma “guerra por procuração”, com financiamento e recursos abundantes vindos de países ocidentais ao Iraque. Entre os abusos, houve uso de armas químicas contra cidadãos civis iranianos.
À época, os recursos auxiliaram o ditador iraquiano Saddam Hussein, em um país de maioria sunita, a investir contra um Irã já administrado pelos aiatolás xiitas desde a revolução do ano anterior.
Entre as metas de Saddam estavam prevenir uma tentativa de revolução xiita, como a que tomara o país vizinho em 1979. Se bem-sucedida, a invasão do Irã também seria uma razoável demonstração de força para alçar Bagdá à condição de potência regional.
Até a revolução iraniana, uma manobra do tipo seria facilmente rechaçada pelo governo de Teerã, do xá Reza Pahlevi, que tinha íntimas conexões com EUA e Reino Unido.
Desde o fim do conflito, em 1988, o Iraque viu poucos momentos de paz. Em 1991, veio a guerra do Golfo. Em 2003, a invasão norte-americana após acusações, afinal não confirmadas, de que o regime produzia armas de destruição em massa.
A gradual rota rumo à decadência econômica e social apenas se agravou nos últimos anos, com um regime cambaleante em Bagdá, a guerra civil na vizinha Síria e o surgimento do Estado Islâmico. Entre 2014 e 2017, milhões foram forçados a deixar suas casas e se refugiar em países próximos.
No Irã, pandemia e colapso econômico
Ressentido, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, afirmou em seu discurso no encontro anual da ONU que o país ainda paga um preço alto por buscar sua “libertação da dominação” ocidental.
“Nós nos reconhecemos com os pés ajoelhados no pescoço como os pés da arrogância de nações independentes”, disse Rouhani ao comparar o Irã com George Floyd, morto asfixiado por policiais norte-americanos.
Rouhani se refere agora às sanções instauradas pelos EUA, que forçam a valorização do Rial iraniano para baixo.
A instabilidade se aprofundou no Irã depois da morte do general Qassem Soleimani, no Iraque, no início de janeiro.
Desde então, o governo de Donald Trump impôs sanções ainda mais severas à economia do Irã. Os EUA buscam estender o embargo de armas estabelecido pela ONU por mais um ano.
O pedido de extensão foi feito no marco do acordo nuclear de 2015, abandonado pelos norte-americanos três anos depois.
Mas o colapso econômico do país também é acompanhado de mais de 429 mil casos confirmados de infecções por Covid-19. Cerca de 25 mil pessoas morreram em decorrência da doença causada pelo vírus.
Para tentar sanar as dívidas, Teerã busca um empréstimo de US$ 5 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional). Essa é a primeira requisição ao FMI desde a Revolução Islâmica, em 1979.
A busca pela parcerias com a China também representam tentativas de escapar das sanções norte-americana. Neste ano, Beijing e Teerã assinaram um acordo de 25 anos que envolve investimentos e cooperação tecnológica.
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