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sexta-feira, 3 de março de 2023

Relator da ONU cobra dos Estados-Membros maior ajuda aos rohingya: “Vida ou morte”

A falta de verba levou a ONU (Organização das Nações Unidas) a implantar um racionamento emergencial de alimentos entre os refugiados rohingyas em Bangladesh. A situação foi classificada como “de vida ou morte” por Tom Andrews, relator especial da entidade para Mianmar, que cobra dos Estados-Membros uma maior ajuda aos deslocados que vivem no vasto complexo de campos de Cox’s Bazar.

“Esses cortes na alimentação são uma mancha na consciência da comunidade internacional ”, disse Andrews, acusando muitos países de fornecer ajuda apenas “retórica”. E acrescentou: “As famílias rohingya não podem comer retórica política. Já passou da hora de os Estados-Membros da ONU substituírem declarações vazias de apoio por ações que salvam vidas”.

De acordo com o relator especial, os cortes na alimentação afetam quase um milhão de refugiados que fugiram da perseguição dos militares de Mianmar que explodiu em 2017.

Refugiados rohingya no campo de Cox’s Bazar, Bangladesh, março de 2018 (Foto: UN Women/Allison Joyce)

A alimentação dos rohingya fica a cargo do Programa Mundial de Alimentos (PMA), cujo déficit de financiamento atual é de US$ 125 milhões. Assim, a quantia mensal fornecida a cada família foi reduzida de US$ 12 para US$ 10.

Com o dinheiro, os refugiados escolhem entre cerca de 40 itens de alimentos frescos e não perecíveis nas lojas do PMA instaladas nos acampamentos. De acordo com a agência da ONU, o corte na quantia mensal tem efeitos “terríveis”, vez que outros serviços críticos estão igualmente diminuindo.

“Falei com famílias desesperadas nos campos que já tiveram que cortar alimentos essenciais devido ao aumento dos preços. Reverter esses cortes na ajuda alimentar é literalmente uma questão de vida ou morte para as famílias rohingya”, afirmou Andrews.

Segundo dados das Nações Unidas, quatro em cada dez crianças rohingya em Bangladesh sofrem de crescimento atrofiado. A anemia também afeta mais da metade dos jovens nos acampamentos de Cox’s Bazar e mais de quatro em cada dez mulheres rohingya grávidas e lactantes.

Se o financiamento humanitário não aumentar, “os cortes serão ainda mais profundos nos próximos dois meses, com os alimentos reduzidos em um terço”, de acordo com o relator especial. “Isso significaria que, em média, os refugiados nos campos de Bangladesh precisariam tentar sobreviver com US$ 0,27 por dia”.

Por que isso importa?

Os rohingyas compõem um grupo étnico muçulmano minoritário de Mianmar, no sudeste da Ásia. Embora vivam nos Estados de Rahkine e Chin, no oeste do país, não têm direito à cidadania e são perseguidos pelas autoridades locais, com relatos de assassinatos, estupros e outros abusos.

Investigações indicam que os militares birmaneses foram responsáveis ​​por atrocidades que incluem ainda mutilações, crucificações, queima e afogamento de crianças, numa ação deliberada de “limpeza étnica” hoje classificada globalmente como genocídio. Ativistas de direitos humanos pressionam há tempos por esforços internacionais para responsabilizar Mianmar por crimes contra a humanidade.

Diante desse cenário, cerca de um milhão de pessoas da minoria fugiram para Bangladesh desde 2017, sendo abrigados em precários campos para refugiados como o de Cox’s Bazar, o mais superlotado do mundo.

Outros 600 mil rohingyas continuam em Mianmar, vivendo sob as leis opressivas do governo militar que comanda o país. A perseguição é tão violenta que tornou-se habitual as pessoas lotarem embarcações rumo a Bangladesh, embora as condições que os esperam no destino sejam terríveis e o trajeto até lá seja extremamente perigoso.

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