Embora o acesso à energia tenha aumentado na África Subsaariana nos últimos anos, ele continua baixo, com mais de 50% da população sem eletricidade em casa. Segundo relatório divulgado na terça-feira (22) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), essa situação tem implicações para saúde, educação, redução da pobreza e desenvolvimento sustentável.
O estudo afirma que a falta de acesso aos combustíveis e tecnologias “limpas” para cozinhar é uma das principais preocupações, especialmente para as mulheres e meninas. Elas são desproporcionalmente afetadas pela poluição do ar doméstico, que causou 700 mil mortes na África em 2019.
O relatório alerta que, sem esforços adicionais, o número de pessoas sem acesso aos combustíveis limpos deve passar dos 923 milhões em 2020 para mais de 1,1 bilhão até 2030.
A publicação indica que o acesso a fontes de energia confiáveis e de qualidade é vital para o desenvolvimento econômico de qualquer país.
Entre os benefícios estão o impulso à industrialização, à produtividade, ao crescimento econômico e ao desenvolvimento humano, essenciais para alcançar quase todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
A Unctad apela aos governos da África Subsaariana para que acelerem os seus esforços de expandir o acesso à energia para alcançar o ODS 7, que busca acesso universal a serviços energéticos confiáveis e modernos até 2030.
Baixo acesso à eletricidade
Segundo o relatório, o acesso à eletricidade na África Subsaariana é o mais baixo de todas as regiões do mundo, em parte devido à falta de redes que fornecem energia elétrica aos consumidores. O levantamento aponta que, onde existem redes, elas estão obsoletas, instáveis e não chegam aos clientes.
Além disso, a baixa capacidade de produção, transmissão e distribuição aos utilizadores, acrescido de elevadas taxas de conexão, fluxos de receitas imprevisíveis e tarifas elevadas, desencorajam os consumidores a adotar serviços energéticos modernos.
Por sua vez, a baixa procura, associada ao envelhecimento das instalações e ao financiamento inadequado das infraestruturas, desencoraja os fornecedores a inovar e fornecer energia mais limpa.
Para um futuro mais limpo e mais verde
De acordo com o relatório, a África pode construir um futuro mais limpo e verde ao expandir o acesso à energia limpa com soluções sustentáveis e respeitosas do meio-ambiente, assegurando que a região não fique para trás à medida que o mundo caminha em direção à utilização de combustíveis de emissões zero.
Isto reduziria os impactos adversos na saúde associados à utilização de combustíveis poluentes, introduziria combustíveis eficientes no pacote energético e construiria um setor energético resistente à mudança climática.
A exploração das vastas reservas de fontes de energia renováveis do continente poderia ajudar a aumentar a capacidade de produção de eletricidade da região, facilitando a transição para fontes de energia com baixo teor de carbono ou sem emissões.
Recursos solares
Com 60% dos melhores recursos solares do mundo, a África pode utilizar a energia solar fotovoltaica como uma forma rentável de fornecer eletricidade a milhões de pessoas que vivem sem acesso.
A região poderia também produzir cerca de 50 milhões de toneladas de biogás com baixo teor de carbono a partir de resíduos agrícolas, estrume animal e resíduos sólidos municipais através de biodigestores domésticos, diz o relatório.
A produção de biogás, utilizando biodigestores domésticos, também pode fornecer energia local com baixo teor de carbono para milhões de lares na região.
Como aproveitar o potencial do mercado regional?
O relatório recomenda o uso de recursos regionais e das redes nacionais para desbloquear o potencial de um mercado regional de eletricidade na África. Um mercado poderia fornecer energia estável e fiável, reduzindo simultaneamente o custo da eletricidade para os consumidores.
Os países poderiam reforçar a confiabilidade do seu abastecimento energético e melhorar o acesso à eletricidade compartilhando a capacidade de produção de energia renovável com base transfronteiriça, já que as nações com excedentes energéticos poderiam trocar energia com as que registrem déficits.
Segundo a Unctad, os governos precisam reexaminar as suas necessidades de investimento energético e explorar fontes de financiamento nacionais e internacionais.
O relatório ainda afirma que a transferência de subsídios da produção de combustíveis fósseis e da produção de eletricidade para o acesso à energia limpa poderia ajudar a produzir combustíveis mais limpos. A recomendação é para que os países explorem várias opções de financiamento para obter recursos de energia renovável.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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