As escolas reabriram nesta semana no Afeganistão, para o início do novo ano letivo, sem a presença de centenas de milhares de meninas. Elas seguem impedidas de estudar desde que o Taleban impôs o veto à educação feminina nos ensinos médio e superior. As informações são da agência Al Jazeera.
A proibição foi reforçada por Habibullah Agha, o ministro da Educação talibã. Segundo ele, as escolas do ensino fundamental “atualmente estarão abertas para meninas”. Os ensinos médio e superior continuam proibidos para elas.
A repressão de gênero não se limita à educação, mas é nesse setor que ela se tornou mais forte e chamou a atenção do mundo. A proibição às meninas no ensino médio, que foi imposta em março do ano passado no Afeganistão, não ocorre em nenhum outro país de maioria muçulmana.
Hoje, a educação feminina afegã se limita às madrassas, escolas islâmicas que as recebem somente até o fim do ensino fundamental, que no país vai até a sexta série.
“A madrassa não pode me ajudar a ser médica, porque isso se faz em outra escola”, disse Yalda, uma jovem que deveria frequentar o nono ano em Cabul e sonhava cursar a faculdade de medicina, mas teve que parar de estudar por imposição do repressor regime.
Outra alua, Sara, que deveria cursar a décima série, diz sonhar “o tempo todo” com a reabertura das escolas para as meninas. “Talvez um dia as escolas reabram e minha educação progrida ainda mais. Nunca vou perder a esperança”, afirmou.
Segundo Catherine Russell, diretora-executiva do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância ), a situação é “absolutamente esmagadora” no país e retira a capacidade das mulheres de “participar de sua comunidade”.
Ela destaca ainda o impacto do veto para toda a sociedade afegã. “O sistema de saúde depende das mulheres. Enfermeiras e médicas precisam ser formadas para que possam ocupar um lugar de destaque no país”, disse a funcionária da ONU (Organização das Nações Unidas). “O impacto prático é devastador e também esmagador para essas meninas que têm sonhos”.
A ONU afirma que, ao assumirem o poder, os insurgentes mostraram um “foco quase singular na imposição de regras que deixam a maioria das mulheres e meninas efetivamente presas em suas casas”. Diante desse cenário, 11,6 milhões de mulheres e meninas afegãs precisam de assistência humanitária.
Tal situação freia duas décadas de progresso. O número de meninas na escola havia aumentado quase 20 vezes desde 2001, de apenas cinco mil para mais de cem mil em 2021.
Excluídas do mercado
A perseguição implacável do Taleban às mulheres não as tirou somente da escola. Também fez os níveis de emprego feminino no Afeganistão caírem acentuadamente, de acordo com dados divulgados recentemente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Um estudo da entidade, intitulado Emprego no Afeganistão em 2022: uma rápida avaliação de impacto, diz que, no quarto trimestre de 2022, o emprego feminino teve redução de 25% na comparação com o segundo trimestre de 2021, período que antecedeu a retirada das tropas dos EUA e aliados do país e a consequente insurreição dos extremistas.
As mulheres que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas contribui para o empobrecimento da população afegã.
Em uma fábrica de tapetes em Cabul, mulheres que foram ex-funcionárias do governo, estudantes do ensino médio ou da universidade agora passam seus dias tecendo tapetes, conforme reportagem da agência Associated Press (AP).
“Todas nós vivemos como prisioneiras, sentimos que estamos presas em uma jaula”, disse Hafiza, 22 anos, que atende apenas pelo primeiro nome e era estudante de Direito do primeiro ano antes de o Taleban retirar as mulheres das universidades. “A pior situação é quando seus sonhos são destruídos e você é punida por ser mulher”.
A repressão de gênero é uma das principais razões citadas por nações de todo o mundo para que o Taleban não seja reconhecido como governo de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza, sem perspectiva imediata de gerar riqueza.
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