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terça-feira, 28 de março de 2023

Honduras rompe relações diplomáticas com Taiwan, que recebe instrução de “fazer as malas” 

Honduras anunciou no sábado (25) o fim de suas relações diplomáticas de décadas com Taiwan, poucos dias depois do país da América Central anunciar que buscaria estreitar laços com a China. As informações são da agência Reuters

Em declaração, o Ministério das Relações Exteriores hondurenho disse: “O governo da República de Honduras reconhece a existência de apenas uma China no mundo e que o governo da República Popular da China é o único governo legítimo que representa todos os chineses”. E acrescentou: “Taiwan é uma parte inalienável do território chinês”.

Como consequência, a ilha semiautônoma deverá desocupar sua embaixada em Tegucigalpa num prazo de 30 dias, disse na segunda-feira (27) à TV local o vice-ministro das Relações Exteriores, Antonio Garcia.

“A partir desta data, o governo de Honduras comunicou a Taiwan a ruptura das relações diplomáticas, comprometendo-se a não manter qualquer relação ou contato de caráter oficial com Taiwan”, detalhou. 

A presidente de Honduras, Xiomara Castro de Zelaya, vê a ilha como “uma parte inalienável do território chinês” (Foto: WikiCommons)

A decisão vem na esteira da declaração da presidente de Honduras Xiomara Castro de Zelaya feita no último dia 14 de que seu país buscaria relações diplomáticas com Beijing, o que implicaria na ruptura com Taiwan. A decisão do governo hondurenho de cortar laços diplomáticos com a ilha semiautônoma em favor de Beijing aponta para a crescente influência chinesa na América Latina

Garcia observou que as autoridades conduzem uma saída “ordenada e amigável”, e que 30 dias “é tempo mais do que suficiente para fazer as malas e partir”.

Com a missão de abrir relações entre os países, o ministro das Relações Exteriores de Honduras, Enrique Reina, visitou a China no início desta semana.

No domingo (26), um dia após Tegucigalpa ter oficialmente cortado os laços com Taiwan, Beijing estabeleceu relações diplomáticas formais com Honduras. “China e Honduras acabaram de estabelecer relações diplomáticas”, disse Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, no Twitter

Ele também compartilhou na plataforma a fala de um estudioso de Honduras, que diz: “Do ponto de vista da comunidade internacional, o princípio de Uma Só China tem efeitos legais. Hoje, 182 países, incluindo Honduras, reconheceram o princípio de Uma Só China e Taiwan é uma parte inalienável do território da China”.

O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, reagiu ao anúncio de Honduras no fim de semana. Ele acusou a presidente Xiomara de ter sido “enganada pelas promessas chinesas” de assistência financeira para seu país.

“A presidente e sua equipe governante têm alimentado ilusões sobre a China e levantaram a questão da troca de reconhecimento durante a campanha”, disse Wu em coletiva de imprensa. “A China não cessou suas tentativas de atrair Honduras com incentivos financeiros”.

“Pragmatismo”

Reina havia dito há duas semanas que a decisão foi baseada em “pragmatismo, não ideologia”, tendo sido motivada pela dívida do país, que é de US$ 20 bilhões, segundo o jornal Guardian. De acordo com ele, Honduras tem necessidades de energia, políticas sociais e serviço da dívida, que estão “afogando o país”. E acrescentou que Tegucigalpa ainda pretende manter relações comerciais com Taiwan.

Recentemente, a China financiou em Honduras a represa Patuca III, orçada em US$ 300 milhões e inaugurada em janeiro de 2021 pelo então presidente Juan Orlando Hernández. Beijing tem como hábito usar o comércio e o investimento como incentivos para estreitar laços, como fez na região com Costa Rica, Panamá, El Salvador e Nicarágua. Além desses países latinos, também fez o mesmo com nações do Pacífico Sul, incluindo as Ilhas Salomão.

A mudança do país da América Central de Taiwan para Beijing deixa o turbulento território insular com relações diplomáticas formais com apenas 13 países, entre eles o Paraguai.

Por conta do princípio “Uma Só China“, o país mais populoso do mundo não permite que nações com as quais sustenta diplomacia mantenham relações oficiais com a sua considerada província rebelde.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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