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quarta-feira, 15 de março de 2023

Embora acuados, insurgentes ainda são uma ameaça na Somália, dizem analistas

As recentes derrotas impostas aos grupos extremistas que atuam na Somália não são suficientes para reduzir a ameaça terrorista no país africano. É o que apontam analistas ouvidos pela rede Voice of America (VOA), segundo os quais o Al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, e o Estado Islâmico (EI) seguem poderosos e não podem ser subestimados.

“Acredito que, por um lado, eles foram ligeiramente feridos, mas sua força permanece intacta”, disse o ex-primeiro-ministro Omar Abdirashid Ali Sharmarke, referindo-se ao Al-Shabaab. “Eles têm feito retiradas táticas ultimamente, mas sua força não pode ser subestimada”.

O grupo ligado à Al-Qaeda é de longe o mais poderoso no território somali. A organização chegou a controlar a capital Mogadíscio até 2011, quando foi expulsa de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

Um levantamento feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidos (IEDs, na sigla em inglês).

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Forças da Somália em operação contra o Al-Shabaab, outubro de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)

De acordo com Mohamed Abdi Tall, governador da região de Bakool, a operação do governo central fez com que o grupo se entrincheirasse na região de Jubaland, sul do país, e também no sudoeste. Porém, isso nem de perto significa que o Al-Shabaab esteja derrotado.

Tall afirma que o Al-Shabaab tem recrutado seguidores há anos, acumulando nesse período uma força maior que o relatado habitualmente. Ele calcula que a facção tinha sob seu comando “não menos que 20 mil combatentes” antes do início da ofensiva militar do ano passado.

“Por 15 anos eles recrutaram, prepararam muitos combatentes”, disse ele. “Eles tinham muito poder. Desde que foram removidos das regiões, avaliamos que sua força foi dizimada, mas não os estamos subestimando”.

Os números apontados por Hussein Sheikh-Ali, conselheiro de segurança nacional do presidente Mohamud, são mais conservadores. “Minha avaliação, mais ou menos, é de dez mil”, disse ele. “A última estimativa que fiz há alguns anos era de 14 mil, mas desde então não acredito que eles tenham treinado um número adequado e também se envolveram em muitas lutas”.

Em parte, Sheikh-Ali atribui a redução no contingente à atual operação do governo, que teria custado aos extremistas cerca de mil seguidores somente nos últimos seis meses, com algo entre dois mil e três mil feridos atualmente. E faz uma projeção um pouco mais otimista.

“Eu fui alguém que sempre, quando as pessoas subestimavam o Al-Shabaab, costumava alertar para não subestimá-lo”, afirmou o conselheiro. “Mas, agora, por não terem apoio da população, seus dias estão contados”.

O Estado Islâmico na Somália

Embora consideravelmente menos poderoso, o EI também tem uma facção na Somália, que igualmente está na mira das forças de segurança estatais. Em janeiro, o grupo sofreu um duro golpe com a morte de Bilal al-Sudani, um de seus líderes.

Sudani foi morto em uma operação que contou com a colaboração das forças armadas norte-americanas, importantes parceiras do governo somali na luta contra o extremismo. As tropas dos EUA deixaram o país africano durante o governo de Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão e reenviou cerca de 500 soldados em 2022.

No início do mês de março de 2023, o governo Biden anunciou a ampliação do apoio às forças da Somália com o envio de 61 toneladas de equipamento militar. O pacote, que já foi entregue em Mogadíscio, inclui fuzis de assalto AK-47, metralhadoras pesadas e munições. 

Para compensar a desvantagem em relação ao Al-Shabaab, contra quem os confrontos são comuns, o EI passou a recrutar seguidores na Etiópia, segundo Ahmed Mohamoud Yusuf, comissário de Balidhidhin, um distrito da região de Puntland.

Ele diz que o grupo chegou ao país com cerca de 20 homens entre 2015 e 2016. Hoje, calcula algo em torno de 200 a 300 combatentes, mas admite que os dados são imprecisos. “Não é fácil dizer o número exato”, declarou.

Matt Bryden, analista de segurança especializado no Chifre da África, explica que, além da escassez de seguidores, o EI sofre com a falta de esconderijos. “A principal limitação é que sua presença física é limitada a um distrito muito pequeno no norte da Somália, a leste de Bosaso, onde quase não há vegetação, com cobertura limitada”, afirmou.

O ex-primeiro-ministro Omar Abdirashid Ali Sharmarke concorda que o EI está acuado, e a pressão imposta pelas forças de segurança tende a impedir que o grupo assuma o controle de centros urbanos como o Al-Shabaab. Ainda assim, diz que não se pode subestimar o grupo. “Essas pessoas vão nos surpreender um dia, a menos que sejam pressionadas e caçadas”, declarou.

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