A estudante russa Sofia Sapega, ex-namorada do jornalista dissidente belarusso Roman Protasevich, teve o nome inserido pelo governo de Belarus na lista nacional de “terroristas”. Ela atualmente cumpre uma pena de seis anos de prisão sob a acusação de “incitar a inimizade social e a discórdia”. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
A relação de “terroristas” foi divulgada na terça-feira (14) pela KGB do país europeu, com os acréscimos dos nomes de Sapega e de outros dez ativistas locais perseguidos pelo governo.
Em 23 de maio de 2021, Sofia e Protasevich estavam em um voo que seguia de Atenas, na Grécia, a Vilnius, na Lituânia. A aeronave foi forçada a pousar em Minsk, escoltada por jatos da força aérea belarussa, sob uma falsa ameaça de bomba. Ambos foram detidos, numa ação internacionalmente classificada como “sequestro estatal”.
O casal foi colocado em prisão domiciliar à espera de julgamento, o que gerou protestos internacionais e rendeu sanções ao país liderado pelo ditador Alexander Lukashenko. Entre elas, a determinação de União Europeia (UE) e Reino Unido para que companhias aéreas evitassem o espaço aéreo belarusso.
Em maio de 2022, em julgamento fechado, a Justiça de Belarus condenou Sapega a seis anos de prisão. Ela foi considerada culpada de “incitar a inimizade social e a discórdia”, além de receber multa de 175 mil rublos belarussos (cerca de R$ 361 mil no câmbio atual). Também foi responsabilizada pela coleta e divulgação ilegal, através do Telegram, de informações sobre uma pessoa não identificada.
Já Protasevich gravou um vídeo no qual se declarou culpado de “perturbar a ordem pública”. Por ter feito isso, foi autorizado a permanecer em prisão domiciliar até o fim do julgamento, iniciado em fevereiro deste ano. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), porém, as declarações do jornalista foram obtidas pelo governo belarusso mediante coação.
O jornalista era editor do Nexta, um canal do aplicativo de mensagens Telegram que exerceu papel crucial na convocação dos cidadãos belarussos para os protestos de 2020. Na ocasião, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a reeleição de Lukashenko, em um pleito com fortes indícios de fraude para beneficiar o ditador.
Atualmente, pesam contra Protasevich 1.586 acusações criminais, entre elas criação de uma organização terrorista, conspiração para tomar o poder, organização de tumultos e insulto ao presidente de Belarus.
Por que isso importa?
Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.
O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.
Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. A organização de direitos humanos Viasna diz que há atualmente mais de 1,4 mil prisioneiros políticos no país.
O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.
Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.
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