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sexta-feira, 17 de março de 2023

Facção afegã do Estado Islâmico conseguirá em breve atacar o Ocidente, alerta militar

O Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) é atualmente o principal rival doméstico do Taleban. O grupo realiza frequentes ataques contra civis e agentes estatais, e nos últimos meses passou a ser visto como ameaça também por missões estrangeiras no Afeganistão. Conforme amplia seu poderio, a organização tende a se tornar ativa também no exterior. E isso não deve demorar a se concretizar, de acordo com projeção do general Michael Kurilla, chefe do Comando Central (Centcom) das forças armadas dos EUA.

Entretanto, Kurilla não acredita que a facção afegã do Estado Islâmico (EI) venha a realizar ataques dentro do território norte-americano. Segundo ele, o risco maior se apresenta contra interesses dos EUA ou de outras nações ocidentais na Ásia ou mesmo na Europa.

“Eles poderão fazer operações externas contra os interesses dos Estados Unidos ou ocidentais no exterior em menos de seis meses, com pouco ou nenhum aviso”, afirmou o militar a parlamentares norte-americanos na quinta-feira (16), de acordo com a rede Voice of America (VOA).

O general não está sozinho em sua previsão. O tenente-general Scott Berrier, que chefia a Agência de Inteligência de Defesa do governo dos EUA, concorda que é “uma questão de tempo” até que o EI-K “tenha a capacidade e a intenção de atacar o Ocidente”.

O mesmo alerta foi feito Washington por Christine Abizaid, diretora do Centro Nacional de Contraterrorismo. Em janeiro, em audiência virtual com o governo Biden, alertou que há “indícios preocupantes” de que a “ambição” do grupo extremista pode ir além de seus atuais domínios.

Combatentes do Estado Islâmico-Khorasan no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)

Mas o primeiro aviso nesse sentido é bem mais antigo. Em outubro de 2021, Colin Kahl, terceiro nome na hierarquia de lideranças do Pentágono, alertou que o EI-K vinha planejando ataques no exterior e que teria tal capacidade “em algo entre seis e 12 meses”.

“Eles têm um quadro de alguns milhares de pessoas, algumas das quais adorariam realizar ataques externos”, afirmou a autoridade do Pentágono na ocasião. “Acho que devemos estar vigilantes para um subconjunto do EI-K que possa desenvolver os recursos e a capacidade de atacar a pátria dos EUA”.

As projeções de Kahl, ao menos naquele momento, não se confirmaram, vez que o prazo foi ultrapassado sem que o grupo tenha atacado alvos fora do Afeganistão. Segundo Kurilla, a projeção falha pode ser explicada porque a “nossa inteligência está degradada”, mas os EUA vêm tentando “fechar essa lacuna”.

Segundo outros oficiais militares e de inteligência, a imprecisão nas análises de inteligência provenientes do Afeganistão deve-se à falta de presença no solo e às distâncias que os aviões de vigilância e drones americanos precisam percorrer antes de realizar a vigilância.

Até três mil seguidores

Um relatório publicado em fevereiro deste ano pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) afirma que o EI-K tem atualmente entre mil e três mil seguidores ativos no Afeganistão e já ampliou sua presença para ao menos cinco províncias afegãs onde antes não estava presente.

Diz ainda o relatório que um dos objetivos do grupo atualmente é minar as relações diplomáticas entre o Afeganistão e outros países, através de ataques que coloquem em risco as vidas de estrangeiros no país. Isso tem gerado uma enorme dor de cabeça ao Taleban, cuja incapacidade de gerir a segurança nacional levou a críticas inclusive de governos aliados.

No início de fevereiro, a Arábia Saudita evacuou, por questão de segurança, diplomatas que estavam no Afeganistão. Já cidadãos da China estiveram em perigo duas vezes: em janeiro, quando um ataque ocorreu perto da embaixada do país em Cabul, e em dezembro de 2022, quando um hotel frequentado sobretudo por chineses foi alvo.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

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