No dia 20 de setembro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou uma mobilização parcial de reservistas para adicionar 300 mil novos soldados às tropas em ação na guerra na Ucrânia. Desde então, mais de cem cidadãos recrutados dentro desse processo morreram no campo de batalhas ou durante o treinamento, de acordo com levantamento do jornal independente Novaya Gazeta Europe.
A investigação levou à identificação de 89 dos mortos, a maioria proveniente dos Urais, uma das 12 regiões econômicas da Federação Russa. Trata-se de uma das áreas mais populosas do país, principal centro de ferro e aço e crucial para a indústria petrolífera russa.
As mortes nem sempre ocorreram em combate. Entre os recrutas identificados, 23 morreram durante a fase de preparação, por causas variadas: doença, acidente, briga, consumo excessivo de álcool e suicídio. As informações foram extraídas de relatos da mídia estatal, obituários e posts em redes sociais, sendo posteriormente confirmadas através de entrevistas com parentes e amigos dos mortos.
A primeira morte de que se tem notícia entre os cidadãos mobilizados ocorreu no dia 27 de setembro, exatamente uma semana após o anúncio do recrutamento. Boris Shavaev morreu ainda durante a etapa de preparação, vítima de um problema decorrente de um coágulo no sangue.
Além dos cem indivíduos que a investigação confirmou terem morrido, alguns deles ainda não identificados, acredita-se que haja mais vítimas não reportadas. “Devido ao fato de que a fonte da maioria dos relatos são os parentes das vítimas, apenas as mortes confirmadas pelo Ministério da Defesa da Rússia são levadas em consideração”, diz a reportagem.
Há, por exemplo, os casos de soldados desaparecidos, que o governo não leva em consideração em sua relação de baixas. Por exemplo, no naufrágio do cruzador Moskva, nau capitânia da frota do Mar Negro, em 14 de abril, Moscou reportou apenas uma morte, embora o número real estimado seja de 40 vítimas.
Mobilização encerrada
No início desta semana, Putin anunciou o fim da mobilização, o que deveria ser encarado com alívio pelos russos aptos a servir às forças armadas. Segundo o Kremlin, o número de 300 mil novos recrutas foi atingido. Entretanto, muitos cidadãos dizem não acreditar na afirmação e preferem continuar se escondendo do governo, algo que se tornou comum nas últimas semanas, segundo o jornal independente The Moscow Times.
“Não confio no que dizem. As regras simplesmente não são seguidas”, disse um homem que se identificou apenas como Nikita, de 27 anos, mantendo o sobrenome em sigilo para não ser identificado. Ele afirmou que continuaria a evitar os agentes do governo, mediante relatos de pessoas que teriam sido recrutadas mesmo após o anúncio do fim da mobilização em várias regiões do país.
Durante o recrutamento, para deter homens como Nikita, tornaram-se comuns as operações realizadas por agentes estatais em busca de reservistas fugitivos. Houve relatos de batidas policiais em hotéis e albergues, onde muitos homens vinham se hospedando para não serem encontrados em seus endereços residenciais. Nas estações de metrô de Moscou, câmeras de vigilância e um sistema de reconhecimento facial foram usados para localizar pessoas de interesse e forçá-las a se alistar.
A legislação da Rússia determina que o documento de convocação precisa ser entregue pessoalmente aos homens elegíveis. Assim, evitar o local de trabalho e a residência costuma bastar para driblar os recrutadores. Aqueles que são convocados e não comparecem ao centro de alistamento recebem uma multa de até três mil rublos (R$ 248,6) e são considerados infratores, podendo cumprir ate dois anos de prisão. Há uma lei em tramitação que ampliaria a pena para cinco anos.
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