Um novo incidente foi registrado entre China e Filipinas no Mar da China Meridional, palco de uma disputa territorial que envolve também outras nações. Nesta segunda-feira (20), a marinha filipina disse que militares chineses apreenderam à força destroços de um foguete lançado por Beijing, de acordo com a agência Associated Press (AP).
O vice-almirante Alberto Carlos alega que os destroços estavam sendo rebocados por um pequeno barco de sua marinha quando militares chineses interceptaram a embarcação e à força retiveram o material. O episódio ocorreu no domingo (20) perto da ilha Thitu, ocupada pelas Filipinas.
Segundo Carlos, os marinheiros usaram uma câmera de longo alcance para avistar o objeto no mar e então enviaram uma embarcação para recolhê-lo. No caminho de volta, “notaram que um navio da guarda costeira chinesa com o número de proa 5203 se aproximava de sua localização e, posteriormente, bloqueou seu curso pré-estabelecido duas vezes”. Então, usando um barco inflável, os chineses “recuperaram à força o referido objeto flutuante cortando a linha de reboque”.
De acordo com a major Cherryl Tindog, porta-voz do Comando Ocidental das forças armadas filipinas, seus marinheiros não reagiram à ação chinesa. “Praticamos tolerância máxima em tal situação”, disse ela. “Como envolvia um objeto não identificado e não era uma questão de vida ou morte, nossa equipe decidiu retornar”.
Beijing, por sua vez, alega que os destroços foram entregues de boa vontade pelos marinheiros filipinos. “O lado filipino salvou e rebocou o objeto primeiro. Após uma consulta amigável no local, o lado filipino devolveu o objeto à China, e a China agradeceu por isso”, disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês. “Não houve interceptação ou apreensão forçada no local”.
Protestos dilomáticos
Somente entre julho e agosto deste ano, as Filipinas dizem ter feito 52 protestos diplomáticos contra ações de Beijing no Mar da China Meridional. À época, Manila alegou que as manifestações ocorreram em função de “incursões” e da “presença ilegal” de embarcações chinesas em áreas controladas, inclusive sob o argumento chinês de que realiza ali pesquisas científicas.
Quando assumiu o governo, o presidente Ferdinand Marcos Jr. sugeriu uma aproximação com Beijing, falando em abrir novas negociações para a exploração de petróleo e gás no Mar da China Meridional. No entanto, a expectativa de que as relações se tornariam menos tensas não se confirmou.
Os 52 protestos diplomáticos, concentrados em apenas dois meses, representam mais de 10% de todas as reclamações apresentadas ao longo dos seis anos de mandato do antecessor Rodrigo Duterte, que teve uma série de desacertos com Beijing por essas mesmas questões.
Por que isso importa?
Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.
No caso específico da relação entre Beijing e Manila, um momento particularmente tenso ocorreu em março deste ano, quando um navio da guarda costeira chinesa realizou “manobras de curta distância” que quase resultaram em colisão com um navio filipino.
Na ocasião, Manila alegou que o navio chinês desrespeitou a conduta náutica quando navegava próximo à ilha Scarborough Shoal, que fica na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) filipina, 124 milhas náuticas a noroeste do continente, e é alvo de disputa internacional.
Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin disse à época que o país dele tem direitos soberanos sobre Scarborough Shoal. Entretanto, uma arbitragem internacional em Haia, em 2016, invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
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