Um tremendo mal-estar ocorreu durante um torneio regional de rugby disputado na Coreia do Sul por conta de uma execução errônea do hino da China. Antes da partida que decidiu a competição, disputada no domingo (13) entre os donos da casa e Hong Kong, em vez da canção-símbolo chinesa, os alto-falantes do estádio tocaram uma música usada por manifestantes honcongueses pró-democracia, o que repercutiu negativamente no governo do território semiautônomo. As informações são da agência Associated Press (AP).
A música de protesto em questão é ‘Glory to Hong Kong’, composta por um músico local e que se tornou um hino entre os manifestantes que participaram dos imensos protestos antigovernamentais ocorridos em 2019. Os versos falam em democracia e liberdade.
Ela foi executada antes das equipes masculinas se enfrentarem na decisão do Asian Rugby Seven Series, em Incheon, a oeste de Seul. O vídeo da música tocando no torneio viralizou nas mídias sociais em Hong Kong, resultando em uma declaração oficial do governo local nesta segunda-feira (14).
“O hino nacional é um símbolo do nosso país. O organizador do torneio tem o dever de garantir que o hino nacional receba o respeito que merece”, disse um porta-voz do governo.
De acordo com nota da Korea Rugby Union, entidade organizadora do evento esportivo, o incidente ocorreu por conta de um “erro humano”, não tendo motivação política. O equívoco foi comunicado à organização pela equipe da China continental, que também disputou o torneio.
Ao término da partida, que deu o título aos visitantes, um pedido de desculpas oficial foi feito em coreano e inglês. Dessa vez, a ‘Marcha dos Voluntários’, hino nacional chinês, foi executado enquanto os atletas recebiam as medalhas na cerimônia de premiação.
A explicação oficial dada para justificar o erro foi a de que a pessoa responsável pela execução dos hinos nacionais acidentalmente escolheu a música de protesto que estava salva em uma pasta de arquivo de computador chamada “Hong Kong”.
O arquivo teria sido salvo por engano, sem que o responsável soubesse da conexão aos protestos pró-democracia, antes de cada competidor do torneio enviar as gravações dos respectivos hinos de seus países, disseram as autoridades.
Esse tipo de incidente envolvendo o esporte não é incomum. Na última quinta-feira (10), a Justiça de Hong Kong anunciou uma sentença de três meses de prisão para a jornalista Paula Leung, de 42 anos. O crime dela: exibir uma bandeira da era colonial durante a execução do hino da China em meio a uma cerimônia de premiação dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020.
Por que isso importa?
Após se transferir do domínio britânico para o chinês, em 1997, Hong Kong passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Entretanto, apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.
A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.
Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território
O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.
Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada”.
O post Música de protesto de Hong Kong é tocada em vez do hino da China em torneio de rúgbi apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos