A piora das condições socioeconômicas, conflitos e falta de financiamento humanitário aumentam o risco de violência de gênero para mulheres e meninas deslocadas à força, alerta a Agência da ONU para Refugiados (Acnur).
Segundo o escritório das Nações Unidas, as necessidades globais identificadas pela Acnur para programas de prevenção e resposta à violência de gênero em 2023 devem atingir cerca de US$ 340 milhões, o maior valor já registrado.
Marcando o tema da ONU para os 16 Dias de Ativismo deste ano, que pede união para acabar com a violência contra mulheres e meninas, a Acnur está pedindo apoio aos doadores em garantir serviços essenciais de prevenção e resposta à violência baseada em gênero com financiamento de programas humanitários.
De acordo com a agência, muitos refugiados e deslocados internos não conseguem suprir suas necessidades básicas devido aos preços inflacionados e à assistência humanitária limitada, agravada pelo interrompimento das cadeias de suprimentos e pouco investimento.
O alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, afirmou que a soma das crises está impondo um preço aos deslocados. Ele adiciona que os efeitos são sentidos em todo o mundo, com mulheres e meninas sofrendo ainda mais.
A Acnur avalia que as deslocadas são muitas vezes as mais vulneráveis a choques, devido à perda de bens e meios de subsistência, à ruptura das redes de segurança comunitárias e à sua frequente exclusão da educação e de outras formas de proteção social nacional.
Diante da escassez de alimentos e do aumento dos preços, muitas mulheres e meninas estão sendo forçadas a tomar decisões angustiantes para sobreviver.
Grandi afirma que muitos estão deixando de fazer refeições, crianças forçadas ao trabalho em vez da escola e “algumas podem não ter opções a não ser mendigar ou se envolver na venda ou troca de sexo para sobreviver.
Ele ainda destaca que muitos enfrenta, riscos elevados de exploração, tráfico, casamento infantil e violência por parceiro íntimo.
Insegurança alimentar
Entre as populações de refugiados na Argélia, Bangladesh, Camarões, Chade, Etiópia, Quênia, Sudão, Sudão do Sul, Níger, Tanzânia, Uganda, República do Congo e Zâmbia, a Acnur registrou graves problemas nutricionais. A agência registra casos de desnutrição aguda, retardo de crescimento e anemia.
No leste e no sul da África, mais de três quartos dos refugiados viram as porções de alimentos cortadas e não conseguem atender às suas necessidades básicas.
Na Síria, 1,8 milhão de pessoas em campos de deslocados sofrem de grave insegurança alimentar, enquanto nove em cada dez refugiados sírios no Líbano não conseguem pagar por alimentos e serviços essenciais.
Nas Américas, metade dos deslocados à força come apenas duas refeições por dia, com três quartos reduzindo a quantidade ou a qualidade de seus alimentos, segundo dados do Acnur.
Grandes deteriorações na segurança alimentar são projetadas no Iêmen e no Sahel, e milhões de deslocados internos em países como Somália e Afeganistão vivem em situações em que 90% da população não consome alimentos suficientes.
Fome e riscos para meninas e mulheres
A Acnur alerta para um ciclo de fome e insegurança, um agravando o outro e alimentando riscos para mulheres e meninas, à medida que estratégias prejudiciais de sobrevivência são adotadas em todas as comunidades.
Relatos de meninas sendo forçadas a se casar para permitir que a família compre comida são especialmente chocantes. No leste e no Chifre da África, os casamentos infantis estão aumentando, como forma de aliviar a pressão sobre a renda familiar.
Os riscos de violência sexual também são agravados pela seca, com mulheres e meninas sendo forçadas a percorrer distâncias maiores para coletar água e lenha.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News
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