São cada vez mais fortes os indícios de que Irã e Coreia do Norte têm equipado as forças armadas da Rússia na guerra atualmente em curso na Ucrânia. Teerã admitiu no sábado (5) que forneceu drones a Moscou, mas afirmou que o fez antes do início do conflito. Já Pyongyang não se pronunciou, mas o think tank norte-americano 38 North, que monitora o país asiático, apresentou evidências de que cargas misteriosas vêm sendo enviadas pelo regime de Kim Jong-un ao território russo.
Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores iraniano, comentou as denúncias de que seu país tem enviado drones e mísseis para fortalecer as tropas russas. “Os comentários sobre a parte dos mísseis estão completamente errados, e a parte dos drones está correta. Demos um número limitado de drones à Rússia meses antes da guerra na Ucrânia”, disse ele, segundo a agência Al Jazeera.
No fim de outubro, o governo dos EUA disse ter evidências de que o Irã enviou inclusive especialistas para orientar as tropas russas sobre o funcionamento dos drones. John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, declarou que um “número relativamente pequeno” de instrutores da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) está na Ucrânia.
Amirabdollahian não comentou a última denúncia, mas deu a entender que seu governo se opõe ao uso dos drones no conflito atual. “Enfatizamos às autoridades ucranianas que, se houver evidências sobre o uso de drones iranianos na guerra da Ucrânia pela Rússia, eles devem nos apresentar”, afirmou. “Se nos for provado que a Rússia usou drones iranianos na guerra da Ucrânia, não ficaremos indiferentes”.
Washington chegou a sancionar, em setembro, quatro empresas iranianas acusadas de participar do processo de produção, venda e entrega de drones a Moscou. Elas estão envolvidas em projetos de “pesquisa, desenvolvimento e produção” de drones iranianos e na “supervisão de vários projetos relacionados à defesa”.
De acordo com Brian E. Nelson, subsecretário do Departamento do Tesouro norte-americano para Terrorismo e Inteligência Financeira, as negociações com Teerã configuram uma ação desesperada de Moscou, que começou a ficar sem armas e não tem mais a quem recorrer para comprá-las, vez que seus antigos parceiros comerciais desapareceram devido às sanções impostas pelo Ocidente.
Ferroviária reativada
Nesse cenário, a segunda opção vem sendo a Coreia do Norte, que não se pronuncia sobre a situação. Porém, o relatório do 38 North indica que um trem há anos inutilizado voltou a operar e fez o trajeto do território norte-coreano ao russo na sexta-feira (4). Dois dias antes, os EUA haviam dito Pyongyang tem enviado projéteis de artilharia a Moscou.
Imagens de satélite foram usadas ara confirmar a movimentação ferroviária. “É impossível determinar a finalidade do trem a partir das imagens, mas a travessia ocorre em meio a relatos de vendas de armas da Coreia do Norte para a Rússia e uma expectativa geral de retomada do comércio entre os dois países”, diz o think tank.
A Ponte da Amizade Tumangang, única ligação terrestre entre Rússia e Coreia do Norte, estava fechada desde 2020, em função da pandemia de Covid-19. Mesmo antes disso, quando estava operante, tinha tráfego limitado. “Então, no segundo semestre de 2021, uma área de manuseio de carga dentro da Coreia do Norte foi reconstruída e ampliada”, afirma o relatório.
As imagens usadas pelo 38 North mostram um trem, com uma locomotiva e três vagões fechados, do lado norte-coreano às 10h24 (horário local). Depois, às 13h10 (horário local), ele aparentemente surge no território russo, a cerca de 200 metros do final da ponte.
“A finalidade do trem e o que ele pode estar transportando não podem ser determinados a partir das imagens”, afirma o think tank. “Na quarta-feira, o porta-voz da Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que os EUA acreditam que a Coreia do Norte está enviando remessas pelo Oriente Médio e Norte da África na tentativa de disfarçá-los”.
Sanções e corrupção
A Rússia teve o quinto maior orçamento militar do mundo em 2021, com US$ 65,9 bilhões investidos em suas forças armadas, de acordo com o site Statista. Fica atrás apenas de EUA (US$ 801 bilhões), China (US$ 293 bilhões), Índia (US$ 76,6 bilhões) e Reino Unido (US$ 68,4 bilhões). Ainda assim, as forças russas têm se mostrado mal equipadas e despreparadas para enfrentar a Ucrânia, que no ano passado teve um orçamento militar de US$ 5,94 bilhões.
Na comparação com Kiev, pesa contra Moscou o suporte ocidental, fundamental para os ucranianos conseguirem resistir ao inimigo por tanto tempo, tendo inclusive realizado uma contraofensiva que levou à reconquista de milhares de quilômetros quadrados de território nas últimas semanas. Entretanto, especialistas apontam outras fontes para a falta de equipamentos dos russos. Sobretudo as sanções ocidentais decorrentes da guerra.
As sanções não impedem a Rússia de importar apenas itens de uso militar direto. Elas também limitaram o acesso de Moscou a artigos eletrônicos cruciais para a fabricação de armamento de última geração, como mísseis de cruzeiro de alta precisão, destaque no arsenal russo.
Mesmo a China, aliada da Rússia e à primeira vista uma opção segura para fornecer artigos de uso militar, tem se recusado a negociar. Isso porque Washington já deixou claro que as empresas chinesas seriam punidas caso rompessem as sanções focadas na cadeia de suprimentos militares.
No caso da Coreia do Norte, essa preocupação não existe porque o país já é sancionada pelo governo norte-americano, estando assim isolado comercialmente. Ou seja, não tem nada a perder ao negociar. Já o Irã, embora atue timidamente para tentar reduzir as sanções da qual também é alvo, aparentemente esta disposto a arriscar.
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