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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Covas coletivas e câmaras de tortura sugerem mais crimes de guerra na Ucrânia

Autoridades na Ucrânia identificaram novos indícios de crimes de guerra cometidos pela Rússia. Na cidade de Sniguriv, câmaras de tortura e covas coletivas foram encontradas, bem como foram registrados saques realizados por soldados russos. As informações são da revista Newsweek.

Sobre a pilhagem cometida pelas tropas de Vladimir Putin, segundo Ivan Kukhta, chefe da administração militar da cidade, pouco ficou para trás. 

“Eles tiveram tempo para se reunir, para recolher todas as propriedades saqueadas. Os russos levaram tudo, todos os equipamentos de empresas de serviços públicos, de empresas privadas, levaram carros, tratores de particulares”, detalhou Kukhta à mídia local. “Foi uma bagunça terrível, baterias e caldeiras arrancadas, etc. Tudo o que era possível foi levado”.

Cenas de destruição no vilarejo de Pevtsi, na Ucrânia (Foto: Ashley Gilbertson/Unicef)

A autoridade também revelou situações de abuso de ucranianos, tortura, assédio, transporte de prisioneiros e descobertas de covas coletivas.

“Há muitas histórias de tortura e abuso. Pessoas foram levadas para Kherson, para Kakhovka”, disse Kukhta. “Agora estamos encontrando pessoas torturadas e temos uma compreensão de onde estão as valas comuns. Há muitas histórias, e elas envolvem abuso e assédio”.

As câmaras de tortura foram encontradas na delegacia de polícia e até em restaurantes, relatou Kukhta. Segundo ele, houve relatos de que gritos podiam ser ouvidos ao longo de toda a cidade.

“Recebemos ligações que informavam que os gritos das pessoas sendo torturadas eram muito audíveis. As pessoas que moravam em prédios altos tiveram que se mudar para parentes em outras ruas para não ouvir mais gritos”, contou Kukhta.

Sniguriv é o maior assentamento no leste do Oblast de Mikolaiv. As tropas russas ocuparam a cidade no dia 19 de março, quase um mês após a invasão da Ucrânia, sendo libertada somente na semana passada.

Por que isso importa?

No início de agosto, o governo ucraniano disse que estão em andamento investigações de quase 26 mil crimes de guerra atribuídos às tropas russas durante o conflito. Segundo a procuradoria-geral do país, 135 pessoas estariam ligadas a esses crimes, sendo que 15 acusados estão sob custódia.

Yuriy Bilousov, chefe do departamento de crimes de guerra da procuradoria-geral ucraniana, disse que 13 casos de violação do direito internacional já foram levados aos tribunais, com sete sentenças emitidas. Entre elas a do soldado russo Vadim Shishimarin, primeiro militar a enfrentar um processo do gênero em quase meio ano de conflito. Ele foi condenado à prisão perpétua em maio, por matar um civil desarmado no dia 28 de fevereiro. 

As investigações de crimes de guerra conduzidas por Kiev contam com o suporte ocidental, que ajuda a financiar os esforços do governo ucraniano e também tem suas próprias equipes em ação. A Alemanha, por exemplo, disse no final de junho que analisa centenas de crimes de guerra possivelmente cometidos por tropas da Rússia.

Na mira das autoridades alemãs não estariam apenas os soldados do exército russo diretamente acusados de tais crimes. Também estariam sob investigação oficiais de alta patente e políticos suspeitos de ordenar os abusos.

Quem atua igualmente nesse sentido é o Tribunal Penal Internacional (TPI), que vê na guerra uma forma de reduzir as críticas recebidas desde sua fundação, há 20 anos. Nesse período, a corte conseguiu apenas três condenações por crimes de guerra e outras cinco por interferência na Justiça.

O TPI afirmou inclusive que planeja abrir ainda neste ano o primeiro caso contra as forças armadas da Rússia. Não foram revelados detalhes de qual poderia ser este primeiro processo, embora venha sendo debatida com Kiev a entrega de pelo menos um oficial russo ao tribunal. Trata-se de um prisioneiro de guerra disposto a testemunhar contra altos comandantes russos. 

No início de junho, a Comissão Europeia anunciou que destinaria 7,25 milhões de euros ao TPI, a fim de apoiar as investigações. “Neste contexto, é crucial garantir o armazenamento seguro de provas fora da Ucrânia, bem como apoiar as investigações e processos por várias autoridades judiciárias europeias e internacionais”, disse o órgão na ocasião.

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