As Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coalizão de milícias curdas apoiada pelo governo dos EUA, anunciaram no sábado (26) que suspenderão suas operações de combate ao Estado Islâmico (EI) na Síria, devido aos recentes ataques aéreos realizados pela Turquia no norte do país. As informações são da agência Associated Press (AP).
De acordo com Mazloum Abdi, principal comandante da coalizão, Ancara planeja agora uma operação terrestre, para se somar às ações aéreas recentes. A ofensiva turca tem como justificativa um ataque ocorrido em Istambul no dia 13 de novembro, que o governo de Recep Tayyip Erdogan atribui ao PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), ligado às FDS.
“As forças que trabalham simbolicamente com a coalizão internacional na luta contra o Daesh agora são alvo do Estado turco. Portanto, as operações (militares) pararam”, disse Abdi, usando uma sigla em árabe para se referir ao EI. “As operações anti-Daesh pararam”.
Na semana passada, Washington havia alertado que os ataques turcos não apenas prejudicam as ações contra o EI como colocam em risco a segurança das tropas norte-americanas na Síria. O Pentágono disse que a escalada causa “profunda preocupação” e compromete anos de progresso no combate aos insurgentes.
Um exemplo do prejuízo foi registrado na sexta-feira (25). No momento em que drones das forças armadas turcas sobrevoavam o campo de Al-Hol, onde vivem dezenas de milhares de parentes de combatentes do EI, alguns internos aproveitaram a confusão, atacaram as forças de segurança e conseguiram fugir.
Por que isso importa?
A guerra civil na Síria, que já dura mais de 11 anos, opõe Rússia e Irã, aliados do presidente Bashar Al-Assad, à Turquia, que apoia os rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS) na luta contra o governo. As FDS estão em um terreno obscuro, vez que seu principal inimigo é o EI, o que garante à milícia o suporte de Washington.
Ancara considera essa aliança um problema, porque classifica a YPG (Unidade de Proteção do Povo), ligada às FDS, como organização terrorista. A YPG é tida também como braço armado do PKK, que por sua vez luta pela autonomia curda na Turquia.
Segundo o ministro da Defesa turco Hulusi Akarem, em 35 anos, a “campanha de terror” da milícia curda já matou mais de 40 mil civis e militares. O objetivo do governo é “exterminar o grupo”, disse ele.
Na guerra civil, a oposição apoiada pelos turcos e por líderes ocidentais exige a queda de Assad, a quem acusa de crimes contra a humanidade. Apoiadores de Assad, por outro lado, criticam o que consideram uma interferência de Washington com o intuito de derrubar o presidente.
Após sofrer duras perdas no início do conflito, Assad conseguiu reconquistar território graças à ajuda de seus aliados. A última região com forte presença da oposição armada inclui áreas da província de Idlib e partes das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia.
Em 2020 foi estabelecida uma trégua intermediada por Rússia e Turquia. Ela inclui os rebeldes e as forças do governo, enquanto grupos extremistas como o EI não fazem parte do pacto.
Desde então, Ancara conseguiu consolidar sua influência no norte da Síria, o que inicialmente ajudou a evitar uma nova etapa de combates e controlou o fluxo de refugiados. Porém, nos últimos meses, o governo turco retomou as operações militares, gerando insatisfação dos dois lados, tanto dos EUA quanto da Rússia.
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