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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Após fim de cessar-fogo, ataque suicida deixa três mortos no Paquistão

O Taleban do Paquistão, nome popularmente atribuído ao grupo extremista Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), reivindicou a autoria de um ataque suicida que matou três pessoas e deixou outras 24 feridas nesta quarta-feira (30), na cidade de Quetta, sudoeste do país. As informações são da agência Al Jazeera.

O atentado ocorreu apenas dois dias depois de a organização ter anunciado o fim de um cessar-fogo estabelecido com Islamabad. Na ocasião, o TTP também convocou seus seguidores a realizarem ataques no Paquistão.

De acordo com Ghulam Azfar Mahesar, vice-inspetor-geral da polícia local, um veículo policial foi atingido pela explosão, sendo que os agentes haviam sido deslocados para realizar a segurança de uma campanha de vacinação contra a poliomielite. Vinte dos feridos são policiais.

O primeiro-ministro Shehbaz Sharif condenou o atentado. “Os trabalhadores da poliomielite estão cumprindo seus deveres para acabar com esta doença sem temer por suas vidas. Acabar completamente com a pólio está entre as principais prioridades do governo”, disse ele.

Militantes islâmicos costumam atacar equipes de vacinação sob o argumento de que os imunizantes são parte de uma grande campanha ocidental para esterilizar as crianças muçulmanas. Entretanto, o TTP emitiu um comunicado sugerindo que este não foi o objetivo.

“Este ataque foi realizado após o anúncio do fim do cessar-fogo e foi planejado para vingar a morte de Omar Khalid Khorasani. Nossos ataques continuarão”, diz o texto publicado pelo Taleban paquistanês, citando um importante membro do grupo que foi morto no Afeganistão em agosto.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), o popular Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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