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quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Coreia do Norte fornece uniformes de inverno à Rússia e viola sanção da ONU

Ao menos três fábricas de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, têm produzido uniformes de inverno e outros itens para equipar as tropas da Rússia na guerra na Ucrânia. A informação foi revelada à rede Radio Free Asia (RFA) por três pessoas com conhecimento da situação. O suposto acordo claramente viola sanção imposta pela ONU (Organização das Nações Unidas) à indústria têxtil norte-coreana em 2017.

Segundo uma das fontes, que pediu para ter a identidade preservada por motivos de segurança, a produção em uma das fábricas começou há cerca de um mês. Estão na lista de compras uniformes para equipar as tropas russas no inverno, roupas íntimas e calçados. A mão de obra é norte-coreana, o que garante uma nova fonte de renda ao empobrecido país asiático. Já a matéria prima é russa.

“Eles estão fazendo uniformes de inverno e roupas íntimas para serem usados ​​pelos soldados na guerra com a Ucrânia. Ouvi de um funcionário de alto escalão da fábrica que eles receberam tecido russo para fazer os uniformes, e a Rússia está encomendando grandes quantidades”, disse o informante.

A embaixada russa na Coreia do Norte chegou a emitir um comunicado confirmando a intenção de adquirir roupas e calçados dos norte-coreanos. Disse, porém, que um acordo nesse sentido deveria ser “implementado em estrita conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que proíbem a importação de certos bens da RPDC (República Popular Democrática da Coreia)”.

Entretanto, a resolução 2375 do Conselho de Segurança da ONU, de 11 de Setembro de 2017, é clara no veto. Acordos comerciais para compra de produtos têxteis provenientes da Coreia do Norte são permitidos somente se tiverem sido aprovados “previamente e caso a caso”. O que não ocorre na atual parceira formada entre Moscou e Pyongyang.

Diz o texto: “Decide que a RPDC não deve fornecer, vender ou transferir, direta ou indiretamente, a partir do seu território, ou por intermédio dos seus nacionais, ou utilizando navios ou aeronaves que arvorem o seu pavilhão, produtos têxteis (incluindo, entre outros, tecidos e artigos de vestuário parcial ou totalmente acabados), e que todos os Estados-Membros devem proibir a aquisição de tais artigos da RPDC por parte dos seus nacionais”.

Tropas do exército russo em ação na neve (Foto: reprodução/Facebook)
Transporte ferroviário

Os indícios de que a Coreia do Norte vem equipando as tropas russas são cada vez mais fortes. Segundo relatório do think tank norte-americano 38 North, publicado na semana passada, um trem que liga os territórios norte-coreano e russo voltou a operar na última sexta-feira (4), após anos de inatividade. Além dos uniformes, é possível que armas estejam sendo transportadas.

Dois dias antes de as imagens terem detectado a movimentação ferroviária, os EUA acusaram Pyongyang de enviar projéteis de artilharia para equipar as tropas da Rússia. Porém, embora imagens de satélite tenham confirmado a movimentação do trem, não consta do relatório o conteúdo da carga.

“A finalidade do trem e o que ele pode estar transportando não podem ser determinados a partir das imagens”, afirma o think tank, que faz uma ressalva. “Na quarta-feira (2), o porta-voz da Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que os EUA acreditam que a Coreia do Norte está enviando remessas pelo Oriente Médio e Norte da África na tentativa de disfarçá-las”.

A Ponte da Amizade Tumangang, única ligação terrestre entre Rússia e Coreia do Norte, estava fechada desde 2020, em função da pandemia de Covid-19. Mesmo antes disso, quando estava operante, tinha tráfego limitado. “Então, no segundo semestre de 2021, uma área de manuseio de carga dentro da Coreia do Norte foi reconstruída e ampliada”, afirma o relatório.

Nesta quarta (9), Moscou negou a informação de que esteja recebendo armas da Coreia do Norte e classificou tais relatos como “falsos do início ao fim”, segundo a agência Reuters.

O peso das sanções

Rússia teve o quinto maior orçamento militar do mundo em 2021, com US$ 65,9 bilhões investidos em suas forças armadas, de acordo com o site Statista. Fica atrás apenas de EUA (US$ 801 bilhões), China (US$ 293 bilhões), Índia (US$ 76,6 bilhões) e Reino Unido (US$ 68,4 bilhões). Ainda assim, as forças russas têm se mostrado mal equipadas e despreparadas para enfrentar a Ucrânia, que no ano passado teve um orçamento militar de US$ 5,94 bilhões.

Na comparação com Kiev, pesa contra Moscou o suporte ocidental, fundamental para os ucranianos conseguirem resistir ao inimigo por tanto tempo, tendo inclusive realizado uma contraofensiva que levou à reconquista de milhares de quilômetros quadrados de território nas últimas semanas. Entretanto, especialistas apontam outras fontes para a falta de equipamentos dos russos. Sobretudo as sanções ocidentais decorrentes da guerra.

As sanções não impedem a Rússia de importar apenas itens de uso militar direto. Elas também limitaram o acesso de Moscou a artigos eletrônicos cruciais para a fabricação de armamento de última geração, como mísseis de cruzeiro de alta precisão, destaque no arsenal russo.

Mesmo a China, aliada da Rússia e à primeira vista uma opção segura para fornecer artigos de uso militar, tem se recusado a negociar. Isso porque Washington já deixou claro que as empresas chinesas seriam punidas caso rompessem as sanções focadas na cadeia de suprimentos militares.

No caso da Coreia do Norte, essa preocupação não existe porque o país já é sancionada pelo governo norte-americano, estando assim isolado comercialmente. Ou seja, não tem nada a perder ao negociar.

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