A China está expandindo os bloqueios sanitários por conta do aumento do número de casos de Covid-19. Inclusive em uma importante cidade onde operários entraram em confronto nesta semana com a polícia por conta de questões trabalhistas, mesmo sob ordenas para a população ficar em casa. As informações são da agência Associated Press.
Cidadãos de oito distritos de Zhengzhou, onde vivem 6,6 milhões de pessoas, foram instruídos a não deixar suas residências por cinco dias a partir desta quinta-feira (24). Só há flexibilidade no lockdown para comprar mantimentos ou buscar atendimento médico. A medida está sendo chamada de “guerra de aniquilação” contra o vírus e inclui testes diários em massa.
Mas nem isso parou os funcionários de uma fabrica de iPhones na cidade de Zhengzhou. Eles foram às ruas protestar contra o não pagamento de seus salários, na terça (22) e na quarta (23), e houve confronto com a polícia, que agrediu os trabalhadores.
A Foxconn, proprietária da fábrica, cuja sede fica em Taiwan, pediu desculpas na quinta pelo que chamou de “um erro de entrada no sistema de computador” e garantiu que o pagamento seria o mesmo acordado com os manifestantes.
Recordes de casos
A Comissão Nacional de Saúde da China relatou 31.444 infecções por coronavírus na quinta e 32.695 na sexta, este o maior número diário registrado desde que a doença foi detectada pela primeira vez em Wuhan no final de 2019. Apesar de o país possuir uma taxa geral de vacinação acima de 92% e de ainda operar uma política de tolerância zero, a taxa de infecção não mostra sinais de desaceleração.
Casos e mortes são relativamente baixos na China em comparação com os EUA, a Índia ou a França, mas o governo permanece firme em sua política de “Zero Covid”.
O Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou uma nova onda de bloqueios em uma tentativa de conter a propagação do vírus. Milhões de pessoas na China estão mais uma vez em quarentena coletiva. Atualmente, o objetivo é conter a última onda de surtos sem fechar fábricas e assim tentar preservar a economia, como no início de 2020.
Por que isso importa?
Beijing tem adotado uma severa política de combate ao coronavírus, com relatos de milhões de cidadãos trancados em casa durante períodos longos e empresas impedidas de funcionar, impactando duramente nas vidas das pessoas e na economia do país.
Há relatos de chineses que morreram durante os períodos de confinamento por falta de atendimento médico para doenças diversas da Covid-19 e até de fome, devido à impossibilidade de sair de casa para obter alimento.
Em maio, Tedros Ghebreyesus, chefe da OMS (Organização Mundial de Saúde), contestou a política “Zero Covid” de Beijing, o que levou o governo a censurá-lo. Declarações dadas por ele foram excluídas de ao menos dois canais, o serviço de microblogs Weibo e o aplicativo de mensagens WeChat.
A autoridade de saúde disse não aprovar a radical política chinesa de trancar a população em casa, uma iniciativa que começou em Xangai, durou seis semanas e se repetiu em outras cidades do país em meio à rápida disseminação da variante Ômicron.
“Quando falamos sobre a estratégia ‘Zero Covid’, não achamos que seja sustentável, considerando o comportamento do vírus agora e o que prevemos no futuro”, disse o chefe da OMS. “Discutimos esta questão com especialistas chineses e indicamos que a abordagem não será sustentável. Acho que uma mudança será muito importante”.
Em abril, a ONG Human Rights Watch (HRW) alertou para os danos que o confinamento vem causando a seus cidadãos, particularmente em Xangai. “As autoridades de Xangai impuseram medidas draconianas de bloqueio desde março de 2022, que impediram significativamente o acesso das pessoas a cuidados de saúde, alimentos e outras necessidades vitais”, disse a entidade na ocasião.
No caso específico de Xangai, pessoas teriam morrido porque não foram autorizadas a sair de casa sequer para tratamento médico de doenças crônicas que enfrentam. E de crianças separadas de seus pais porque um ou mais integrantes da família testaram positivo para Covid-19. Muitos cidadãos teriam ficado sem comida em casa, devido à longa duração do bloqueio, que os pegou desprevenidos.
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