O Reino Unido determinou a todos os departamentos governamentais que parem de usar câmeras fabricadas na China em “locais sensíveis” do país. A ordem surge em meio ao crescente temor global de que as imagens captadas por equipamentos chineses sejam enviadas a Beijing para alimentar um grande banco de dados estatal. As informações são da rede Sky News.
Além das câmeras, o governo britânico também determinou que os demais dispositivos tecnológicos produzidos por companhias chinesas sejam desconectados das redes de computadores de órgãos estatais. Se possível, devem ser removidos e substituídos.
A cautela ocidental justifica-se pela Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas locais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente submete as empresas de tecnologia ao Partido Comunista Chinês (PCC).
“Como as considerações de segurança são sempre fundamentais nesses sites, estamos adotando medidas agora para evitar que qualquer risco de segurança se materialize”, afirmou Oliver Dowden, membro do Parlamento britânico e ex-secretário de Estado do Digital, de Cultura, Mídia e Esportes.
Dowden confirmou que a decisão é baseada na sujeição das empresas chinesas à referida lei. “Os departamentos foram avisados de que nenhum equipamento desse tipo deve ser conectado às redes principais departamentais e que devem considerar se removem e substituem esses equipamentos quando forem implantados em locais sensíveis, em vez de aguardar atualizações programadas”, disse ele.
Por que isso importa?
Nos últimos meses, duas empresas chinesas de tecnologia entraram na mira do governo britânico: a Hangzhou Hikvision Digital Technology e a Zhejiang Dahua Technology. Ambas estão entre as maiores desenvolvedoras mundiais de câmeras de protocolo de internet e vêm expandindo sua presença no Reino Unido.
Londres é uma das cidades mais vigiadas do mundo, com 73 câmeras de circuito fechado de televisão (CCTV) a cada mil pessoas. E a suspeita de vigilância estatal praticada pelo governo chinês, fazendo uso da tecnologia produzida no país e exportada para todo o planeta, levou Londres a debater a imposição de sanções às duas empresas.
“Estamos permitindo que a China construa um Estado totalitário tecnológico, e eles vão construí-lo com base em dados do povo da Grã-Bretanha e de outros países. Estamos enviando os dados faciais de nossos filhos e pessoas em todo o Reino Unido de volta à China e ao PCC”, disse em junho deste ano a parlamentar conservadora Alicia Kearns, copresidente do China Research Group.
Os Estados Unidos também cogitam impor sanções sem precedentes a essas empresas, o que geraria consequências para o superlativo número de clientes que usam seus equipamentos ao redor do mundo. Seria a primeira vez que marcas desse porte, presentes em mais de 180 países, entrariam para a Lista de Nacionais Especialmente Designados e Pessoas Sancionadas (SDN, da sigla em inglês), geralmente reservada a traficantes e líderes de grupos armados violentos.
A Hikvision é conhecida por ser controlada pela China Electronics Technology Group, um dos maiores conglomerados industriais militares da nação asiática. A marca já entrou em conflito com os reguladores dos EUA e figura em várias listas que a bloqueiam de grande parte da economia americana. A fabricante chinesa já havia sido impedida de vender tecnologia no país pelo ex-presidente Donald Trump.
A Huawei é outra empresa inserida no cenário de desconfiança global em torno da tecnologia chinesa. A gigante enfrenta crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação de seus equipamentos rejeitada em países como Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido. O temor é o de que a China use a companhia para espionagem.
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