Considerado ilegal na Rússia e sob o rótulo de “organização extremista” desde o início da guerra na Ucrânia, o Instagram deve ganhar um substituto doméstico. Desenvolvedores de software russos entregaram protótipos de alternativas locais para a popular plataforma de fotos e vídeos, bem como para o TikTok e o Zoom, também restritos. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
Nos seus lugares entram, respectivamente, as plataformas Looky, Sunlight Play e Dion. Os esboços de mídia social integram os planos do governo russo de proibir uso de softwares estrangeiros em infraestrutura crítica até 2025, determinação dada pelo chefe do Kremlin, Vladimir Putin. Os projetos disputam subsídios federais de até 37,1 bilhões de rublos (US$ 614 milhões), que serão distribuídos nos próximos dois anos.
A versão russa do Instagram, o Looky, se vende como uma “versão aprimorada” do original. Uma das facilidades, anteciparam os desenvolvedores, é a de que os usuários poderão migrar fotos, “stories” e até mesmo seguidores do Instagram para sua plataforma.
É uma corrida para compensar o prejuízo. Com o novo aplicativo, que deve ser lançado entre 2024 e 2025, a ideia é resgatar pelo menos um terço dos 110 bilhões de rublos (R$ 9,6 bilhões) em receitas perdidas por pequenas e médias empresas devido à proibição do Instagram. Há também planos futuros de levar o aplicativo para Belarus, Cazaquistão e Emirados Árabes Unidos.
Já o Sunlight Play tem a pretensão de assumir a lacuna deixada por uma rede que é a febre do momento entre jovens e celebridades. Os desenvolvedores o definiram como um “análogo estilístico do TikTok“, sendo também descrito como uma plataforma que “defende a soberania dos dados ao trabalhar com os jovens”.
No mês passado, a Justiça local multou o TikTok em 3 milhões de rublos (cerca de R$ 260 mil) por exibir conteúdo LGBT. O Tribunal Distrital de Tagansky, em Moscou, acatou as acusações de que a plataforma estava “promovendo valores não tradicionais, LGBT, feminismo e uma representação distorcida de valores sexuais tradicionais”.
Pensando nas entidades corporativas russas, os serviços de comunicação por vídeo, como Zoom, Skype e Google Meet, darão lugar ao Dion e ao TrueConf Enterprise 2.0.
De acordo com a mídia russa, cinco projetos de mídia social receberam aprovação preliminar do Kremlin em outubro e agora aguardam decisões quanto ao financiamento.
Por que isso importa?
Desde o início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, o Roskomnadzor, órgão estatal regulador da mídia na Rússia, acusa inúmeros veículos de publicarem “informações falsas” sobre a guerra. Nesse cenário, autoridades ameaçam multar ou bloquear aqueles que se recusassem a apagar publicações sobre o conflito.
O governo contesta quaisquer relatos de bombardeios russos a cidades ucranianas e baixas civis, bem como textos que usam expressões como “ataque”, “invasão” ou “declaração de guerra”. Moscou exige que se fale em “operação militar especial” nas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk e determina que sejam publicadas apenas informações distribuídas por fontes do governo.
No início de março, a censura atingiu redes sociais como Facebook e Twitter, além de diversos sites informativos russos e estrangeiros em atividade no país. Eles foram parcialmente bloqueados em meio à repressão imposta por Moscou às vozes dissonantes durante a guerra.
A fim de legitimar a censura, o Legislativo da Rússia aprovou naquela mesma época uma lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas. Trata-se de mais uma ferramenta de censura do Kremlin para reprimir a oposição e silenciar os meios de comunicação não alinhados com o governo.
Oficialmente, o objetivo da normativa legal é “impedir o descrédito das forças armadas da Federação Russa durante suas operações para proteger os interesses da Federação Russa e de seus cidadãos, mantendo a paz e a segurança internacionais”.
De acordo com o texto legal, é proibido publicar conteúdo “contra o uso de tropas russas para proteger os interesses da Rússia” ou “para desacreditar tal uso”, o que prevê uma pena de até três anos de prisão. A mesma punição se aplica àqueles que venham a pedir sanções à Rússia.
Em certos casos, o artigo prevê pena máxima de até dez anos de prisão, mas pode haver agravantes que venham a aumentar a sentença. Nos casos que a Justiça considere terem gerado “consequências sérias”, a punição sobe para até 15 anos.
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