As forças armadas da Somália concluíram na quarta-feira (9) mais uma etapa de sua megaoperação de combate ao terrorismo. O resultado, segundo o governo local, foi a morte de mais 200 combatentes do Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda, no intervalo de uma semana. As informações são do site Garowe.
As recentes ações das tropas somalis contaram com o apoio do exército norte-americano, das forças da União Africana (UA) e de milícias armadas locais a serviço do governo. Uma das operações mais recentes ocorreu no Estado de Galmudug, onde 50 militantes teriam sido mortos. A outra, na vila de Basra, levou à morte de 47 insurgentes. Nos dias anteriores, o governo havia anunciado outras mais de cem mortes.
Além de neutralizar inimigos, as ações da força-tarefa antiterrorismo levaram à retomada de importantes áreas antes ocupadas pelo Al-Shabaab. Entre quarta e quinta-feira, o Brigadeiro-General Abdullahi Ali Anod afirma que quatro importantes posições em Galmudug foram reconquistadas. Os dados divulgados por Mogadíscio, porém, não foram confirmados de forma independente.
O objetivo dos militares na atual etapa de sua operação de combate ao extremismo islâmico é empurrar os terroristas do Al-Shabaab para áreas onde eles não têm o apoio de reforços e onde o reagrupamento é mais complicado.
Outro foco do governo somali são as finanças da organização, que estaria arrecadando US$ 100 milhões anuais, sendo 24% desse valor destinado á compra de armas. Para apoiar essa empreitada, os EUA anunciaram recentemente novas sanções a supostos aliados do grupo, inclusive um que tem nacionalidade brasileira.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação
“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.
O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.
O presidente Hassan Sheikh Mohamud deixa claro que a diplomacia de fato não está nos planos, tendo iniciado uma grande ofensiva contra os insurgentes em setembro. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.
Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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