Após acusar Moscou de roubar sua produção de grãos para revender no exterior e de ver um navio cargueiro de bandeira russa ser detido pela Turquia no domingo (3), na costa do Mar Negro, carregado com 7 mil toneladas do alimento, a Ucrânia pediu ajuda a Ancara na investigação de outras três embarcações suspeitas. As informações são da agência Reuters.
O pedido partiu do gabinete da procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, que no dia 13 de junho enviou uma carta ao Ministério da Justiça turco solicitando que investigasse e fornecesse evidências a respeito de três navios que estariam envolvidos no esquema de transporte de grãos. A carga teria sido supostamente roubada de territórios ocupados por forças russas, como Kherson, uma cidade portuária no sul do país.
O documento detalha que as embarcações partiram rumo à Turquia entre os meses de abril e maio do porto da Crimeia de Sebastopol, controlado pela Rússia desde a anexação da península em 2014. As autoridades ucranianas pressionam Ancara para ter acesso aos registros sobre as cargas e chegada aos portos turcos.
A reportagem teve acesso aos documentos e aponta que os três navios graneleiros, de nomes Mikhail Nenashev, Matros Pozynich e Matros Koshka, são de propriedade de uma subsidiária da empresa estatal russa United Shipbuilding Corporation, alvo de sanções ocidentais. A companhia não respondeu a um pedido de comentário.
Caso a investigação ateste o envolvimento da estatal russa no transporte de grãos ucranianos, Kiev teria uma forte evidência para sustentar suas alegações de bens roubados. O Kremlin rejeita as acusações.
Segundo Kirill Stremousov, vice-chefe da administração instalada por Moscou em Kherson, os grãos da região estavam indo para a Crimeia, e a responsabilidade pelo transporte era de agricultores locais. Ele afirma não ter conhecimento de nenhuma remessa enviada à Turquia ou ao Oriente Médio.
Além da Turquia, Estado-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que tem bons laços tanto com Moscou quanto com Kiev – o que a faz criticar a invasão e as sanções ocidentais –, a Síria, aliada russa, é outro destino das cargas.
Segundo a Ucrânia, sem apresentar evidências, desde fevereiro, o país no Oriente Médio recebeu pelo menos 150 mil toneladas de trigo supostamente roubado, carga que chegou principalmente em navios russos.
Em maio, os Estados Unidos alertaram 14 países, a maioria no continente africano, de que navios de carga russos estavam deixando portos perto da Ucrânia carregados com o que um funcionário do Departamento de Estado descreveu como “grão ucraniano roubado”. Três embarcações suspeitas de fazer o transporte foram identificadas pelo delator.
Por que isso importa?
Em meio a um cenário que gera preocupação com a iminência de uma crise alimentar global causada pela incapacidade de Kiev de exportar trigo por conta de seus portos bloqueados pelo exército russo, autoridades ucraniana falavam na metade de junho em um rombo de aproximadamente 500 mil toneladas, resultando em um prejuízo de US$ 100 milhões.
Washington alertou que o Kremlin está colocando dinheiro nos cofres com essa pilhagem e teria estabelecido um mercado de trigo roubado que negocia o alimento com países da África atingidos pela seca causada pelo fenômeno La Niña, segundo reportagem do jornal The New York Times. Algumas dessas nações já estariam enfrentando um quadro de fome.
Juntas, Rússia e Ucrânia concentram quase 30% da exportação global de trigo e 80% das exportações de girassol. Pelo menos 40% das exportações de trigo e milho produzidos em solo ucraniano vão para o Oriente Médio e a África, que já sofrem com a fome. A interrupção em ambos os países é sentida no sistema agroalimentar mundial.
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