Um comboio governamental que transportava a equipe de segurança do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, foi atacado por homens armados na terça-feira (5). A ação foi atribuída a “bandidos“, nome popular de grupos armados sem vínculo ideológico que atuam sobretudo no norte nigeriano. As informações são da agência catari Al Jazeera.
Revelado inicialmente por uma autoridade nigeriana que não quis se identificar, o incidente foi posteriormente confirmado pelo porta-voz presidencial Garba Shehu. Segundo ele, duas pessoas que estavam no comboio sofreram ferimentos leves.
“Os agressores abriram fogo contra o comboio de posições de emboscada, mas foram repelidos pelos militares, policiais e funcionários do DSS (Departamento de Serviços Estatais, da sigla em inglês) que acompanhavam o comboio”, disse comunicado do governo. “Duas pessoas no comboio estão recebendo tratamento para os ferimentos leves que sofreram. Todos os outros funcionários e veículos chegaram em segurança a Daura”.
A ação teria ocorrido no Estado de Katsina, tendo como alvo um comboio que levava agentes de segurança, oficiais de protocolo governamental e equipe de mídia. “A Presidência descreveu como triste e indesejável o incidente do tiroteio”, afirma o texto.
O presidente não estava a bordo de nenhum dos veículos. Ele é esperado em Katsina no final de semana para participar de um festival islâmico.
Ainda de acordo com o comunicado, no mesmo dia, um grande grupo de agressores matou dois agentes de segurança em uma parte diferente de Katsina. Não ficou claro, pelas informações do governo, se os dois incidentes estão diretamente relacionados.
“Mais de 300 terroristas em motocicletas, atirando esporadicamente com fuzis AK-47 e metralhadoras de uso geral”, emboscaram um comandante de polícia e a equipe dele em meio a “uma operação de limpeza contra bandidos/terroristas”.
O comunicado afirma que “o comandante da área e um outro oficial galante perderam a vida durante uma troca de tiros”.
Por que isso importa?
A violência que atinge o noroeste da Nigéria forçou dezenas de milhares de pessoas a deixarem suas casas e já começa a se expandir para a região central do país. Parte da população foge dos ataques dos “bandidos” e também da ação de grupos jihadistas, sobretudo o Boko Haram e o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental).
Enquanto os jihadistas têm uma agenda ideológica muito clara, os “bandidos” agem somente por dinheiro. São principalmente jovens do grupo étnico Fulani que trabalharam como criadores de gado nômades e se envolveram em um conflito de décadas com comunidades agrícolas, na luta pelo acesso à água e às pastagens.
Os “bandidos” são os maiores responsáveis pelos sequestros de jovens em idade escolar, uma modalidade criminosa que tem crescido muito no país. O objetivo dos raptos é meramente financeiro, ou seja, receber o valor do resgate em troca da libertação das vítimas. As gangues também promovem invasões e saques em vilas.
Desde o início de 2022, o governo da Nigéria passou a classificar os “bandidos” como terroristas. “Acho que a única linguagem que eles entendem – nós discutimos exaustivamente com as agências de aplicação da lei, chefes de segurança, o inspetor-geral da polícia… – é irmos atrás deles”, disse o presidente Muhammadu Buhari. “Nós os rotulamos de terroristas. Vamos lidar com eles como tal”.
A violência no noroeste nigeriano aumentou nos últimos meses, e a OIM (Organização Internacional para as Migrações) estima que houve cerca de 50 mil deslocamentos internos no país desde janeiro de 2020. Adicionalmente, 80 mil pessoas rumaram ao vizinho Níger nos últimos dois anos, situação que as agências de apoio à população temem gerar uma nova crise humanitária.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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