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quinta-feira, 14 de julho de 2022

Compradores de casas na China ameaçam parar de pagar hipoteca por obras inacabadas

Em um movimento que ganhou força na China nas últimas semanas, cidadãos insatisfeitos por terem colocado dinheiro em empreendimentos imobiliários não concluídos passaram a ameaçar os bancos de suspender os pagamentos das hipotecas como forma de protesto.

De acordo com a mídia local, a situação pode se arrastar até que as incorporadoras normalizem a construção de moradias pré-vendidas, mostrou reportagem da rede Channel News Asia (CNA).

Segundo a agência de notícias imobiliárias Leju, nesta terça-feira (12), a pressão recaiu sobre pelo menos 14 empreendimentos, envolvendo 46 mil compradores e 35 bilhões de yuans (US$ 5,21 bilhões) em propriedades.

Inadimplência hipotecária ocorreria como forma de protesto até retomada de obras paradas (Foto: WikiCommons)

Anos após terem adquirido imóveis em pré-venda, os compradores ainda não receberam as chaves devido ao descumprimento de datas programadas para a entrega, já que os desenvolvedores não concluíram as obras. Entre as construtoras estão China Aoyuan, Sinic, Shimao e a Evergrande, esta última a incorporadora mais endividada do mundo por conta de seu déficit de US$ 300 bilhões.

Em cartas abertas endereçadas a reguladores e bancos locais publicadas na internet, os grupos de compradores culpam bancos comerciais locais por aprovarem empréstimos hipotecários indevidos a desenvolvedores, além de uma supervisão insuficiente das contas de garantia. Para eles, isso teria resultado em uso indevido de fundos e paralisação das obras pelos construtores.

Com o setor mobiliário chinês atravessando um momento delicado, o mais recente episódio ampliou as preocupações e fez cair ainda mais as ações de propriedade listadas em Hong Kong nesta quarta-feira (13). Country Garden e CIFI fecharam em quedas superiores a 8% e 13%, respectivamente.

Compras abandonadas

Em Hong Kong, a incorporadora Twin City Holdings, responsável por um conjunto habitacional no distrito de Cheung Sha Wan, encerrou 21 compras de apartamentos na terça-feira (12) após os compradores não concluírem suas transações. O resultado foi amargo para a empresa: uma perda de US$ 1,1 milhão em depósitos, segundo o jornal South China Morning Post.

Este foi um dos mais expressivos números de negócios encerrados em um único dia dentro do território semiautônomo. E, na opinião de um corretor ouvido pela reportagem, o mercado imobiliário local pode testemunhar mais compras abandonadas, dada a perspectiva de queda de preços de casas em meio ao aumento das taxas de hipoteca.

“Provavelmente haverá mais compradores se afastando de suas compras em um momento em que os preços das casas estão caminhando para uma tendência de queda”, avalia Sammy Po Siu-ming, executivo-chefe da divisão residencial da Midland Realty para Hong Kong e Macau.

Segundo a JLL, uma companhia de serviços profissionais especializada no mercado imobiliário corporativo, o preços das casas de Hong Kong na categoria “mercado de massa” (residências com menos de 69,9 metros quadrados) deve ter queda de até 10% em 2022.

Por que isso importa?

Foi o endividamento da Evergrande que chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados.

A reorganização da incorporadora, que espera-se ser a maior já feita no país asiático, é tida como um momento decisivo na história do mercado de títulos em dólar no continente.

Evergrande tomou emprestados mais de US$ 20 bilhões em títulos denominados em dólares de seus mais de US$ 300 bilhões em passivos. Mas entregou poucas informações detalhadas enquanto as autoridades chinesas trabalham para limitar o impacto do colapso da empresa.

Hui Ka Yan, fundador e presidente da companhia e que encabeça a lista de bilionários devedores do setor imobiliário chinês, já perdeu pagamentos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio em fevereiro, ao descartar a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer de 2022.

No dia 21 de março, a Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong e foi avisada de que precisa informar as autoridades locais sobre como será executada a reestruturação da companhia. No dia seguinte ao anúncio, a gigante chinesa teve cerca de US$ 2,1 bilhões em dinheiro apreendidos por bancos para o pagamento de credores.

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