A Justiça da Rússia abriu um processo criminal contra o proeminente oposicionista Ilya Yashin, crítico do governo Putin e da guerra na Ucrânia. Preso desde o final de junho por supostamente desacatar policiais, ele agora é acusado de espalhar “notícias falsas” sobre as ações das forças armadas. As informações são da agência catari Al Jazeera.
Yashin foi detido em junho em um parque de Moscou e deveria ficar preso durante 15 dias por desacato. Ele afirma que estava sentado em um banco com um amigo quando policiais surgiram e exigiram que os acompanhasse, sem maiores explicações. As autoridades, por sua vez, alegam que o homem reagiu com ofensas e que segurou um dos agentes.
Em vez de libertá-lo após os 15 dias, a Justiça apertou o cerco contra Yashin, um dos últimos críticos notórios de Vladimir Putin que permanecia em liberdade na Rússia. Foi aberto um processo criminal contra ele, que seguirá preso pelo menos até o dia 12 de setembro. Acusado de divulgar “notícias falsas” sobre as ações das forças armadas na guerra, pode pegar 15 anos de reclusão.
Na quarta-feira (13), o oposicionista, que já foi deputado municipal do distrito de Krasnoselsky, em Moscou, disse perante a um tribunal local que o caso é “politicamente motivado do início ao fim“. Já o advogado dele, Vadim Prokhorov, afirmou que as autoridades também fizeram uma busca na residência do réu, que temporariamente deixou a prisão para acompanhar a ação.
De acordo com Prokhorov, a nova acusação se baseia em um vídeo publicado no YouTube em 7 de abril, no qual o oposicionista fala sobre os “os assassinatos de civis em Bucha”. A cidade ucraniana, que fica nas proximidades de Kiev, foi palco de um massacre atribuído a tropas de Moscou.
Os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha quando as tropas ucranianas reconquistaram a cidade três dias após a retirada dos russos. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
Liberdade de expressão
A acusação contra Yashin levou a uma manifestação de repúdio da Anistia Internacional, que contestou a “vergonhosa criminalização da liberdade de expressão” no país. A detenção do oposicionista foi chamada de “arbitrária” pela entidade, que ainda classificou como “falsas” as acusações de desacato.
“A feia repressão dos direitos na Rússia continua. Desde a invasão da Ucrânia, as autoridades russas tornaram-se ainda mais descaradas em suas tentativas de silenciar a oposição política, ativistas e todos aqueles que discordam do governo”, disse Marie Struthers, diretora da ONG para a Europa Oriental e Ásia Central.
Struthers prosseguiu: “Ilya Yashin é uma das poucas figuras da oposição que até recentemente permaneceu no país e não atrás das grades. Agora, ele também está em detenção arbitrária e pode ser preso por criticar a conduta dos militares russos na Ucrânia. Ele deve ser libertado imediata e incondicionalmente, e a vergonhosa criminalização da liberdade de expressão deve parar”.
Por que isso importa?
Na Rússia, contestar as ações do governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos.
Uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”. Pela nova legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 16,9 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, eufemismo usado pelo governo para se referir à guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.
Aleksei Gorinov, membro do Conselho de Deputados do distrito de Krasnoselsky, em Moscou, tornou-se o primeiro indivíduo a ser condenado à prisão com base na legislação. Em 8 de julho, ele foi condenado a sete anos de prisão por chamar as ações da Rússia de “guerra”, em vez de usar o termo oficial do Kremlin.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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