O relatório anual da ONU sobre Crianças e Conflitos Armados, divulgado nesta segunda-feira (11), detalha o impacto devastador que várias formas de conflito tiveram nas crianças de todo o mundo em 2021.
O relatório engloba cenários de escalada de conflitos, golpes militares e tomadas de poder, conflitos prolongados e novos, bem como violações do direito internacional. Conflitos transfronteiriços e violência intercomunitária também impactaram a proteção das crianças, especialmente na Bacia do Lago Chade e nas regiões do Sahel Central.
O relatório destaca quase 24 mil violações graves verificadas contra crianças, uma média de cerca de 65 casos por dia. Assassinatos e mutilações são as violações graves mais verificadas, seguidas pelo recrutamento e uso de crianças e a negação do acesso humanitário.
Os lugares onde houve mais casos de crianças afetadas por graves violações em 2021 foram Afeganistão, República Democrática do Congo (RDC), Israel e Palestina, Somália, Síria e Iêmen.
“Não há palavra forte o suficiente para descrever as condições horríveis que as crianças em conflitos armados têm sofrido”, disse a representante especial do secretário-geral para crianças e conflitos armados, Virginia Gamba.
“Aqueles que sobreviveram serão afetados por toda a vida com profundas cicatrizes físicas e emocionais. Mas não devemos deixar que esses números desencorajem nossos esforços. Eles devem servir como um impulso para reforçar nossa determinação de acabar e prevenir graves violações contra crianças. Este relatório é um chamado à ação para intensificar nosso trabalho e proteger melhor as crianças em conflitos armados e garantir que elas tenham uma chance real de se recuperar e prosperar”, diz ela.
Gamba explica, ainda, que meninos e meninas muitas vezes enfrentam riscos diferentes, um fator que é importante entender ao desenvolver estratégias de prevenção e resposta.
Duas formas de violação mostraram um aumento acentuado em 2021: sequestro e violência sexual, incluindo estupro, que aumentaram 20%.
Os ataques a escolas e hospitais também apresentaram aumento, agravados pela pandemia. Mais de 2,8 mil crianças foram detidas por sua associação real ou alegada com partes em conflito, tornando-as particularmente vulneráveis a tortura, violência sexual e outros abusos.
Novos casos
Etiópia, Moçambique e Ucrânia foram adicionados ao relatório como situações de preocupação, refletindo o impacto dramático das hostilidades sobre as crianças nessas áreas. Além disso, o chefe da ONU, António Guterres, solicitou um monitoramento aprimorado de violações contra crianças na região do Sahel Central, semelhante ao seu pedido para a região da bacia do Lago Chade em 2020.
Em meio ao catálogo de violações, houve avanços em algumas regiões. No total, 12.214 crianças foram libertadas das forças e grupos armados em países como República Centro-Africana, Colômbia, RDC, Mianmar e Síria.
A representante especial destacou a importância de fornecer às crianças libertadas das forças armadas e grupos o apoio adequado para se reintegrarem às suas comunidades.
“As partes envolvidas em processos e discussões de paz devem considerar a integração dos direitos e necessidades das crianças em suas negociações, bem como em seus acordos finais, pois continua sendo a única maneira de alcançar uma paz sustentável”, disse Gamba, saudando a atual trégua no conflito do Iêmen como exemplo.
“Quando falta a paz, as crianças são as primeiras a pagar o preço desta trágica perda”, declarou ela. “É mais crítico do que nunca agir para proteger nossas crianças e garantir seu futuro mais seguro e melhor”.
Crianças e Conflitos Armados em 2021:
- O relatório destaca 23.982 violações graves verificadas contra crianças em geral. Para 15% dessas violações, os perpetradores não puderam ser identificados, tornando a responsabilização subsequente extremamente desafiadora.
- Pelo menos 5.242 meninas e 13.663 meninos foram vítimas de graves violações em 21 países e uma região. Pelo menos 1.600 dessas crianças foram vítimas de múltiplas violações.
- 8.070 crianças foram mortas ou mutiladas, cada vez mais por resíduos explosivos de guerras, dispositivos explosivos improvisados (IEDs) e minas, que afetaram cerca de 2.257 crianças.
- As crianças continuaram a ser recrutadas e usadas, com 6.310 crianças afetadas.
- Foram verificados 3.945 casos de negação de acesso humanitário.
- Em alguns contextos, restrições de acesso e segurança dificultaram os esforços de verificação de todas as violações graves.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News
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